O homem entrou em casa, de madrugada, avançou para o quarto, como que guiado pela voz da mulher grávida que lia à sua barriga uma carta. A futura mãe tinha em mãos as páginas de uma das missivas de amor que integram um livro: aquele que compila as cartas escritas por um alferes médico de 28 anos, destacado logo após a conclusão do curso de Medicina para uma comissão de serviço em Angola (1971-1973), à mulher grávida que deixara em Lisboa.
sábado, 8 de agosto de 2015
CARTAS DE AMOR NA GUERRA
O homem entrou em casa, de madrugada, avançou para o quarto, como que guiado pela voz da mulher grávida que lia à sua barriga uma carta. A futura mãe tinha em mãos as páginas de uma das missivas de amor que integram um livro: aquele que compila as cartas escritas por um alferes médico de 28 anos, destacado logo após a conclusão do curso de Medicina para uma comissão de serviço em Angola (1971-1973), à mulher grávida que deixara em Lisboa.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
HELICÓPTEROS....
A Força Aérea utilizou em África helicópteros Alouette e Puma e, desde o início da sua operação, estes aparelhos demonstraram ser dos mais importantes meios para o sucesso das operações de contraguerrilha. Foi a aeronave que melhor simbolizou o esforço da Força Aérea na guerra, já que aumentou a mobilidade das forças terrestres, apoiou-as pelo fogo, evacuou do campo de batalha os seus feridos, reabasteceu-as de água, de comida e de munições e colaborou ainda no auxílio às populações.
A decisão de adquirir os primeiros helicópteros data de 1957 (embora desde 1954 a Força Aérea operasse um Sikorsky UH-19, nos Açores), data em que o Governo decidiu adquirir sete Alouette II (AL II) à Sud-Aviation. Estas sete aeronaves começam a actuar em Portugal em 1958. Em meados de 1961, na sequência do início da guerra em Angola, os AL ll foram para o aeródromo do Negaje, sendo deslocados para Luanda em Agosto do mesmo ano e substituídos, em meados de 1963, pelos AL lII, sendo os AL lI transferidos para a Guiné, onde entretanto se abrira nova frente de guerra.
Quatro deles irão ainda, no início de 1966, para Moçambique, transportados num DC-6, para guarnecer a nova frente de combate, vindo a ser progressivamente retirados da actividade operacional nos três teatros da guerra, substituídos pelos AL III.
Os Alouettes III efectuaram a sua primeira missão operacional em Moçambique em 3 de Março de 1966, em missão de evacuação sanitária de piloto acidentado na região de Mueda.
Os Alouettes III realizavam missões de transporte táctico em operações de helitransporte e heliassalto, de transporte logístico, de evacuação sanitária e de apoio pelo fogo. Para que este helicóptero, basicamente uma aeronave civil, pudesse ser utilizado como plataforma de armas, houve que o adaptar para ser possível instalar a bordo uma arma eficaz. A partir de 1965, o AL III foi armado com canhão de 20 mm, montado em suporte no chão do aparelho, operado lateralmente por um atirador. Este aparelho, que apoiava as forças terrestres, protegia outros helicópteros de transporte e fazia reconhecimento armado, teve, durante a guerra, o nome de código de «Lobo Mau».
Em 1973, realizaram-se experiências para adaptação do lança-foguetes de 37 mm e de 2,75, que nunca chegaram à fase de emprego operacional. Em 1970, e fruto da necessidade de as forças portuguesas disporem de helicóptero de maior capacidade de transporte, foram adquiridos, também à Sud-Aviation, treze SA 330-Puma, que entraram ao serviço em Angola, em Outubro de 1970, destinando-se seis deles a Moçambique. Eram equipados com duas turbinas e podiam transportar até dezoito a vinte homens (um grupo de combate), o que, dada a sua elevada autonomia, aumentou grandemente a mobilidade das forças terrestres. Estes helicópteros podiam voar de noite, o que representou progresso significativo em relação aos Alouettes III.
Foram intensamente utilizados por forças especiais em Angola, nas missões de intersecção de colunas de guerrilheiros vindos das fronteiras do Congo e da Zâmbia, e serviram também como transporte de evacuação sanitária e de apoio logístico.
Helicópteros
- ALII (SE 3130) 7
- ALIII (SE3160) 142
- Puma (SA330) 13
- Horas voadas em 1973 30 000
- Acidentes em 29 anos 213
- Pilotos mortos 30
Primeiro voo operacional do helicóptero Puma - 23 de Outubro de 1970, em missão de transporte de manobra (TMAN) em Santa Eulália, Norte de Angola.
Primeira missão operacional em Moçambique - 3 de Março de 1966, em missão de evacuação sanitária de piloto acidentado na região de Mueda.
A decisão de adquirir os primeiros helicópteros data de 1957 (embora desde 1954 a Força Aérea operasse um Sikorsky UH-19, nos Açores), data em que o Governo decidiu adquirir sete Alouette II (AL II) à Sud-Aviation. Estas sete aeronaves começam a actuar em Portugal em 1958. Em meados de 1961, na sequência do início da guerra em Angola, os AL ll foram para o aeródromo do Negaje, sendo deslocados para Luanda em Agosto do mesmo ano e substituídos, em meados de 1963, pelos AL lII, sendo os AL lI transferidos para a Guiné, onde entretanto se abrira nova frente de guerra.
Quatro deles irão ainda, no início de 1966, para Moçambique, transportados num DC-6, para guarnecer a nova frente de combate, vindo a ser progressivamente retirados da actividade operacional nos três teatros da guerra, substituídos pelos AL III.
Os Alouettes III efectuaram a sua primeira missão operacional em Moçambique em 3 de Março de 1966, em missão de evacuação sanitária de piloto acidentado na região de Mueda.
Os Alouettes III realizavam missões de transporte táctico em operações de helitransporte e heliassalto, de transporte logístico, de evacuação sanitária e de apoio pelo fogo. Para que este helicóptero, basicamente uma aeronave civil, pudesse ser utilizado como plataforma de armas, houve que o adaptar para ser possível instalar a bordo uma arma eficaz. A partir de 1965, o AL III foi armado com canhão de 20 mm, montado em suporte no chão do aparelho, operado lateralmente por um atirador. Este aparelho, que apoiava as forças terrestres, protegia outros helicópteros de transporte e fazia reconhecimento armado, teve, durante a guerra, o nome de código de «Lobo Mau».
Em 1973, realizaram-se experiências para adaptação do lança-foguetes de 37 mm e de 2,75, que nunca chegaram à fase de emprego operacional. Em 1970, e fruto da necessidade de as forças portuguesas disporem de helicóptero de maior capacidade de transporte, foram adquiridos, também à Sud-Aviation, treze SA 330-Puma, que entraram ao serviço em Angola, em Outubro de 1970, destinando-se seis deles a Moçambique. Eram equipados com duas turbinas e podiam transportar até dezoito a vinte homens (um grupo de combate), o que, dada a sua elevada autonomia, aumentou grandemente a mobilidade das forças terrestres. Estes helicópteros podiam voar de noite, o que representou progresso significativo em relação aos Alouettes III.
Foram intensamente utilizados por forças especiais em Angola, nas missões de intersecção de colunas de guerrilheiros vindos das fronteiras do Congo e da Zâmbia, e serviram também como transporte de evacuação sanitária e de apoio logístico.
Helicópteros
- ALII (SE 3130) 7
- ALIII (SE3160) 142
- Puma (SA330) 13
- Horas voadas em 1973 30 000
- Acidentes em 29 anos 213
- Pilotos mortos 30
Primeiro voo operacional do helicóptero Puma - 23 de Outubro de 1970, em missão de transporte de manobra (TMAN) em Santa Eulália, Norte de Angola.
Primeira missão operacional em Moçambique - 3 de Março de 1966, em missão de evacuação sanitária de piloto acidentado na região de Mueda.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
EM DEFESA DA PÁTRIA...
A cruel realidade de extemporaneamente cair de chofre um telegrama comunicando a morte do seu filho em defesa da pátria! O sofrimento para uma Mãe deveria ser insuportável, o sentimento de perca deveria ser lancinante.
Hoje passados tantos anos o esquecimento por parte das entidades responsáveis é reprovável e
a história ficará manchada pela falta de coragem desta classe política...coragem tivemos nós que demos a nossa vida pela Pátria!
Hoje passados tantos anos o esquecimento por parte das entidades responsáveis é reprovável e
a história ficará manchada pela falta de coragem desta classe política...coragem tivemos nós que demos a nossa vida pela Pátria!
quarta-feira, 24 de junho de 2015
O ENCONTRO...PASSADOS 40 ANOS....
Quem esteve no cenário da guerra sabe os meandros que percorremos, e neste caso especial é de louvar a atitude do Furriel Bento. Quantos deixaram os filhos e nunca os assumiram, o teatro da guerra não dava hipótese a sentimentalismos e os superiores hierárquicos não davam a mínima hipótese, possivelmente seria levantado um auto ao militar e seria castigado. A coragem deste homem emerge dum contexto em que a maioria das pessoas opinam sem saberem, só quem por lá passou é que sabe.
Excelente reportagem e uma atitude nobre de um pai que viveu sempre com a ansiedade de apertar nos seus braços. o filho querido!
sexta-feira, 1 de maio de 2015
ADEUS NA HORA DA LARGADA
Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis
Mas a vida
matou em mim essa mística esperança
Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz elétrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.
Agostinho Neto
quinta-feira, 23 de abril de 2015
FÁBRICA MILITAR de BRAÇO de PRATA
Também chamada vulgarmente como Fábrica de Braço de Prata, começou a funcionar em 1908, fazendo essencialmente munições de artilharia.
Em 24 de Novembro de 1953, deu-se uma explosão nesta fábrica da qual resultaram 12 mortos.
Atingiu o seu auge durante a Guerra Colonial, altura em que conseguiu produzir centenas de milhares de espingardas automáticas, morteiros, metralhadoras, munições, fardamentos e outros artigos que equiparam as Forças Armadas Portuguesas.
Os produtos projectados, e fabricados, nesta fábrica mais conhecidos foram:
Pistola-Metralhadora de 9 mm
Espingarda Automática G3
Metralhadora de 7,62 mm HK21
Morteiro de 60 mm
Pistola-Metralhadora de 9 mm de seu nome"Lusa", não tendo sido fabricada nesta fábrica, mas cuja licença foi vendida.
A FBP, mais conhecida como a "agrafadeira"
O desenho e fabrico eram inteiramente portugueses e a sua construção era dividida entre 2 fábricas, a FNM(Fábrica Nacional de Munições de Moscavide), e a FBP(Fábrica de Braço de Prata). Existiram 2 versões: a FBP M/947 com tiro completamente automático e a FBP M/961 com selector de tiro, que permitia tiro semi-automático e automático.
Em 24 de Novembro de 1953, deu-se uma explosão nesta fábrica da qual resultaram 12 mortos.
Atingiu o seu auge durante a Guerra Colonial, altura em que conseguiu produzir centenas de milhares de espingardas automáticas, morteiros, metralhadoras, munições, fardamentos e outros artigos que equiparam as Forças Armadas Portuguesas.
Os produtos projectados, e fabricados, nesta fábrica mais conhecidos foram:
Pistola-Metralhadora de 9 mm
Espingarda Automática G3
Metralhadora de 7,62 mm HK21
Morteiro de 60 mm
Pistola-Metralhadora de 9 mm de seu nome"Lusa", não tendo sido fabricada nesta fábrica, mas cuja licença foi vendida.
A FBP, mais conhecida como a "agrafadeira"
O desenho e fabrico eram inteiramente portugueses e a sua construção era dividida entre 2 fábricas, a FNM(Fábrica Nacional de Munições de Moscavide), e a FBP(Fábrica de Braço de Prata). Existiram 2 versões: a FBP M/947 com tiro completamente automático e a FBP M/961 com selector de tiro, que permitia tiro semi-automático e automático.
domingo, 19 de abril de 2015
A TUA FOTOGRAFIA
Com muita nostalgia fiz este poema dedicado ao meu marido, sem que fizesse para tal , esta foto que estava guardada,veio até mim. Senti uma enorme saudade e vontade de falar do que foi o nosso amor e vida. Assim é com todo o meu carinho que partilho convosco. ( Não para me fazer de vítima pois infelizmente foram tantas as mulheres, filhos e pais que passaram o mesmo que eu). Mas sim porque o meu EU me pediu.
A TUA FOTOGRAFIA
A TUA FOTOGRAFIA
Estás sempre no meu coração
Mas ao ver esta tua foto
Causou -me muita emoção!
E uma saudade imensa e forte.
Tanta e tanta coisa recordei,
Apenas num segundo
Muitos momentos veio à minha mente.
Amamo-nos com loucura
Muita ternura, amor profundo.
Éramos muito novos com muitas ilusões.
A nossa vida em comum
Durou apenas uma Primavera!
Semeamos uma semente do nosso amor,
Com fecundidade e nasceu no Outono
Foi uma grande felicidade para todos.
Estavas fora, ao serviço do nosso país.
Esperava com confiança o teu regresso
Para que a nossa vida fosse completa.
A saudades que sentíamos
Eram mitigadas, pelas cartas
Que todos os dias escreviamos
Um ao outro e pelo amor da nossa filha.
Ainda a nossa princesa, não tinha três meses,
Esperava receber uma carta tua. ..
Não recebi! Recebi sim ...
A visita de um Militar da Marinha
Trouxe a notícia mais dolorosa
Que recebi na minha vida.
A dor foi tão forte que desejei morrer .
Não morri! Mas foi muito sofrimento.
Hoje ao ver esta foto
O meu passado voltou no tempo
Com lembranças que vão doer sempre.
Pelo meu primeiro e grande amor,
Pelo o pai da minha filha,
Pelo o homem humano e honesto,
Pela partida prematura e horrível ,
Uma partida que deixou muita mágoa.
Muita dor e grande saudade.
Rosete Cansadoquarta-feira, 15 de abril de 2015
CRUZES SEM ROSTO...
Nas três frentes da guerra colonial, cairam para sempre, milhares de jovens,abraçando a terra quente e vermelha. Muitos deles não voltaram à sua Pátria, foram abandonados e votados ao ostracismo de vários governos.
Um País que ignora os seus filhos e a sua história deixa de ter pergaminhos.
Um País que ignora os seus filhos e a sua história deixa de ter pergaminhos.
sexta-feira, 10 de abril de 2015
PESADO TRIBUTO...
Um tributo ao soldado português que combateu e tombou pela pátria em África”, e a toda “a juventude portuguesa que fez a guerra colonial e foi muito mal tratada. Foi para a homenagear que escrevi este livro”, confessou. O antigo sargento diz ter feito parte de “uma juventude massacrada e sofrida”, cuja maioria nem possuía a 4ª classe, a escolaridade obrigatória na época. Recorda ainda “uma juventude que não tinha praticamente nada”, e que “sem o Serviço Militar Obrigatório (SMO) cumprido dificilmente conseguia encontrar emprego”. Aos 18 anos Mário Ferreira Santos já estava em Moçambique, depois de se ter voluntariado para a tropa. Apenas antecipou uma situação difícil de contornar: “aos 20 anos todos sabíamos que o nosso destino era África”, recorda. “Íamos para um mundo completamente desconhecido” com “a chama e o ideário da defesa da Pátria”. Quando mobilizados para o Ultramar, o transporte de militares “era feito em cargueiros adaptados” por vezes “com condições sub-humanas, onde os soldados se amontoavam”. Viajavam após escutarem frequentemente: “Angola é nossa, frase repetida até à exaustão”, a propósito do início das hostilidades neste primeiro cenário de guerra, a que se seguiram Moçambique e Guiné-Bissau, os outros dois cenários de guerra onde Portugal esteve envolvido.
Para o antigo sargento, convém não deixar cair no esquecimento este “período negro da nossa história”, do qual “não podemos ter orgulho, mas também não podemos dizer que tivemos vergonha”. Considerou ainda que, “as guerras de guerrilha nunca se ganharam pelas armas, mas sim pela política”, factor que, a seu ver, “esteve na origem do 25 de Abril” de 1974. Ao longo do período da guerra colonial, Portugal enviou para África mais de 800 mil soldados. Perto de nove mil tombaram em combate, cerca de 30 mil foram feridos com gravidade, dos quais 14 mil ficaram com deficiências físicas para o resto da vida. No entanto, ainda falta um verdadeiro relatório que inclua “todos aqueles que ficaram afectados pelo stress de guerra até aos dias de hoje”, conclui o antigo militar.
quinta-feira, 9 de abril de 2015
EXTRATOS de uma GUERRA...
Uma parcela do livro "TAMBÉM EU ESTIVE LÁ..", escrito pelo nosso ex-alferes Lino Rei.
Segundo relato do ex-furriel, Laranjeira, mecãnico-auto, que não se comparando propriamente a um guerrilheiro no terreno, tal como os atiradores, trabalhava com outras armas, não menos importantes que as nossas G 3, como as chaves de bocas e de luneta, para apertar os parafusos dos já muitos desapertados que existiam nas velhas carcaças que nos haviam deixado os "velhinhos" da Companhia que fôramos render, também ele se pronuncia a prepósito:
"Existem imagens que, difìcilmente, se conseguem esbater na voragem do tempo e que ficarão para sempre retidas no nosso imaginário. Uma delas, foi a nossa chegada ao Songo. O contraste da rigidez dos nossos rostos, de olhos ainda virgens para o teatro de guerra que desconhecíamos, e o explodir da incontida alegria dos "velhinhos" nos seus camuflados já completamente desfigurados por inúmeros rasgões em formas geométricas losangulares, rectangulares, circulares e outras, foi por demasiado evidente. O aspecto fantasmagórico daquela tropa, só podia ser comparado a uma qualquer visão de tipo dantesco com descida aos infernos, que terminou num clamor de cantilena desconjuntada de múltiplas vozes:
Ó maçarico
Tua alma chora
Olha a velhice
Que se vai embora!
De seguida, foi vê-los, estrada fora, a caminho da peluda. Para nós, restavam os camuflados ainda luzidios e a incerteza do futuro".
Segundo relato do ex-furriel, Laranjeira, mecãnico-auto, que não se comparando propriamente a um guerrilheiro no terreno, tal como os atiradores, trabalhava com outras armas, não menos importantes que as nossas G 3, como as chaves de bocas e de luneta, para apertar os parafusos dos já muitos desapertados que existiam nas velhas carcaças que nos haviam deixado os "velhinhos" da Companhia que fôramos render, também ele se pronuncia a prepósito:
"Existem imagens que, difìcilmente, se conseguem esbater na voragem do tempo e que ficarão para sempre retidas no nosso imaginário. Uma delas, foi a nossa chegada ao Songo. O contraste da rigidez dos nossos rostos, de olhos ainda virgens para o teatro de guerra que desconhecíamos, e o explodir da incontida alegria dos "velhinhos" nos seus camuflados já completamente desfigurados por inúmeros rasgões em formas geométricas losangulares, rectangulares, circulares e outras, foi por demasiado evidente. O aspecto fantasmagórico daquela tropa, só podia ser comparado a uma qualquer visão de tipo dantesco com descida aos infernos, que terminou num clamor de cantilena desconjuntada de múltiplas vozes:
Ó maçarico
Tua alma chora
Olha a velhice
Que se vai embora!
De seguida, foi vê-los, estrada fora, a caminho da peluda. Para nós, restavam os camuflados ainda luzidios e a incerteza do futuro".
sábado, 28 de março de 2015
UM DIA, FOI ASSIM....
Um documentário cumplice e intimista. 25 de Abril de 1974, o jovem militar Orlando Mesquita corria pelas ruas, juntando-se a tantos outros na grande celebração da liberdade. Escassas semanas após o acontecimento, é enviado para uma guerra que afinal não terminara num passe de magia. Como tantos jovens anónimos, foi enviado para limpar, discreta e silenciosamente, os despojos do conflito.
Da experiência brotaram cicatrizes, histórias ocultas que através da lente se revelam nesse território onde as linhas de um rosto traçam um mapa, e nesse mapa se confrontam com a palavra dita e sentida.
Da experiência brotaram cicatrizes, histórias ocultas que através da lente se revelam nesse território onde as linhas de um rosto traçam um mapa, e nesse mapa se confrontam com a palavra dita e sentida.
quinta-feira, 19 de março de 2015
AS MULHERES e a GUERRA COLONIAL
Rezaram e fizeram promessas por eles. Escreveram-lhes centenas de aerogramas, adiando o amor, às vezes sem volta. Tornaram-se madrinhas de guerra de homens que nem sequer conheciam. Foram com eles para o território desconhecido de África, que amaram ou odiaram, ou resignaram-se a esperar por eles, com filhos nos braços.
Voaram para os resgatar do mato, onde chegaram mesmo a morrer por eles, e organizaram-se, com maior ou menor cunho ideológico, para lhes aliviar a saudade, enquanto apoiavam as suas famílias. Arriscaram por eles, protegendo-lhes a retaguarda, contestando a guerra, desertando sem saberem quando voltariam ao seu país, mergulhando na clandestinidade e aderindo à luta armada, sujeitas às sevícias da polícia política e perdendo a juventude nas masmorras da prisão. Trataram deles quando voltaram, mutilados e traumatizados, e habituaram-se a amar homens diferentes daqueles com quem haviam casado. Cada uma à sua maneira, as protagonistas deste livro foram pioneiras, desbravando
caminhos outrora vedados às mulheres. Mães, irmãs, filhas, amantes, companheiras, amigas, muitas mulheres viveram a guerra colonial como se também elas tivessem sido mobilizadas. Depois da guerra, também para elas nada foi como dantes.
Voaram para os resgatar do mato, onde chegaram mesmo a morrer por eles, e organizaram-se, com maior ou menor cunho ideológico, para lhes aliviar a saudade, enquanto apoiavam as suas famílias. Arriscaram por eles, protegendo-lhes a retaguarda, contestando a guerra, desertando sem saberem quando voltariam ao seu país, mergulhando na clandestinidade e aderindo à luta armada, sujeitas às sevícias da polícia política e perdendo a juventude nas masmorras da prisão. Trataram deles quando voltaram, mutilados e traumatizados, e habituaram-se a amar homens diferentes daqueles com quem haviam casado. Cada uma à sua maneira, as protagonistas deste livro foram pioneiras, desbravando
caminhos outrora vedados às mulheres. Mães, irmãs, filhas, amantes, companheiras, amigas, muitas mulheres viveram a guerra colonial como se também elas tivessem sido mobilizadas. Depois da guerra, também para elas nada foi como dantes.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
FRAGMENTOS
A guerra esse maldito teatro, onde a morte está sempre representada, deixando nos intervenientes marcas irreversíveis! As imagens ficam indelével na nossa memória, e não nos deixam repousar...continuamos até morrer numa guerra latente!
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
EX-COMBATENTES DA GUERRA COLONIAL SÃO GRUPO DE RISCO(HEPATITE))
Muitos ex-combatentes da Guerra Colonial começam agora a descobrir, quase 50 anos depois, que contraíram hepatite B ou C, doença que pode ser fatal, alertou a associação portuguesa que dá apoio aos doentes hepáticos.
“Temos hoje imensas pessoas que descobrem que estão infectadas, mas já o estão há mais de 40 anos, como o caso dos ex-combatentes”, afirmou a presidente da Associação SOS Hepatites, nas vésperas do Dia Mundial da doença, que se assinala quinta-feira, dia 28 de Julho.
Esta organização suspeita que os ex-combatentes foram expostos ao vírus em território português, porque antes de embarcarem para África levavam, em grupo, uma vacina, que era administrada sem os cuidados necessários.
“Eram colocados em fila e a agulha era reutilizada muitas vezes. Isso deu origem a muitas infecções. Tenho casos de homens com 66/67 anos que descobriram por mero acaso. Andavam cansados, foram ao médico e descobrem que têm uma hepatite desde o tempo da Guerra”, contou Emília Rodrigues.
Quando a doença é detectada tarde, as consequências são as piores: cancro e cirroses, que aumentam as probabilidades de um desfecho fatal. Em Portugal não há dados de prevalência das hepatites, mas com base em projecções da Organização Mundial de Saúde estimam-se 120 mil portadores de hepatite B e 170 mil de hepatite C.
Quando a doença é detectada tarde, as consequências são as piores: cancro e cirroses, que aumentam as probabilidades de um desfecho fatal. Em Portugal não há dados de prevalência das hepatites, mas com base em projecções da Organização Mundial de Saúde estimam-se 120 mil portadores de hepatite B e 170 mil de hepatite C.
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