sexta-feira, 10 de abril de 2015

PESADO TRIBUTO...

             


Um tributo ao soldado português que combateu e tombou pela pátria em África”, e a toda “a juventude portuguesa que fez a guerra colonial e foi muito mal tratada. Foi para a homenagear que escrevi este livro”, confessou. O antigo sargento diz ter feito parte de “uma juventude massacrada e sofrida”, cuja maioria nem possuía a 4ª classe, a escolaridade obrigatória na época. Recorda ainda “uma juventude que não tinha praticamente nada”, e que “sem o Serviço Militar Obrigatório (SMO) cumprido dificilmente conseguia encontrar emprego”. Aos 18 anos Mário Ferreira Santos já estava em Moçambique, depois de se ter voluntariado para a tropa. Apenas antecipou uma situação difícil de contornar: “aos 20 anos todos sabíamos que o nosso destino era África”, recorda. “Íamos para um mundo completamente desconhecido” com “a chama e o ideário da defesa da Pátria”. Quando mobilizados para o Ultramar, o transporte de militares “era feito em cargueiros adaptados” por vezes “com condições sub-humanas, onde os soldados se amontoavam”. Viajavam  após escutarem frequentemente: “Angola é nossa, frase repetida até à exaustão”, a propósito do início das hostilidades neste primeiro cenário de guerra, a que se seguiram Moçambique e Guiné-Bissau, os outros dois cenários de guerra onde Portugal esteve envolvido.
Para o antigo sargento, convém não deixar cair no esquecimento este “período negro da nossa história”, do qual “não podemos ter orgulho, mas também não podemos dizer que tivemos vergonha”. Considerou ainda que, “as guerras de guerrilha nunca se ganharam pelas armas, mas sim pela política”, factor que, a seu ver, “esteve na origem do 25 de Abril” de 1974. Ao longo do período da guerra colonial, Portugal enviou para África mais de 800 mil soldados. Perto de nove mil tombaram em combate, cerca de 30 mil foram feridos com gravidade, dos quais 14 mil ficaram com deficiências físicas para o resto da vida. No entanto, ainda falta um verdadeiro relatório que inclua “todos aqueles que ficaram afectados pelo stress de guerra até aos dias de hoje”, conclui o antigo militar.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

EXTRATOS de uma GUERRA...

Uma parcela do livro "TAMBÉM EU ESTIVE LÁ..", escrito pelo nosso ex-alferes Lino Rei.
Segundo relato do ex-furriel, Laranjeira, mecãnico-auto, que não se comparando propriamente a um guerrilheiro no terreno, tal como os atiradores, trabalhava com outras armas, não menos importantes que as nossas G 3, como as chaves de bocas e de luneta, para apertar os parafusos dos já muitos desapertados que existiam nas velhas carcaças que nos haviam deixado os "velhinhos" da Companhia que fôramos render, também ele se pronuncia a prepósito:
"Existem imagens que, difìcilmente, se conseguem esbater na voragem do tempo e que ficarão para sempre retidas no nosso imaginário. Uma delas, foi a nossa chegada ao Songo. O contraste da rigidez dos nossos rostos, de olhos ainda virgens para o teatro de guerra que desconhecíamos, e o explodir da incontida alegria dos "velhinhos" nos seus camuflados já completamente desfigurados por inúmeros rasgões em formas geométricas losangulares, rectangulares, circulares e outras, foi por demasiado evidente. O aspecto fantasmagórico daquela tropa, só podia ser comparado a uma qualquer visão de tipo dantesco com descida aos infernos, que terminou num clamor de cantilena desconjuntada de múltiplas vozes:

Ó maçarico
Tua alma chora
Olha a velhice
Que se vai embora!

De seguida, foi vê-los, estrada fora, a caminho da peluda. Para nós, restavam os camuflados ainda luzidios e a incerteza do futuro".






sábado, 28 de março de 2015

UM DIA, FOI ASSIM....

Um documentário cumplice e intimista. 25 de Abril de 1974, o jovem militar Orlando Mesquita corria pelas ruas, juntando-se a tantos outros na grande celebração da liberdade. Escassas semanas após o acontecimento, é enviado para uma guerra que afinal não terminara num passe de magia. Como tantos jovens anónimos, foi enviado para limpar, discreta e silenciosamente, os despojos do conflito.
Da experiência brotaram cicatrizes, histórias ocultas que através da lente se revelam nesse território onde as linhas de um rosto traçam um mapa, e nesse mapa se confrontam com a palavra dita e sentida.




quinta-feira, 19 de março de 2015

AS MULHERES e a GUERRA COLONIAL

Rezaram e fizeram promessas por eles. Escreveram-lhes centenas de aerogramas, adiando o amor, às vezes sem volta. Tornaram-se madrinhas de guerra de homens que nem sequer conheciam. Foram com eles para o território desconhecido de África, que amaram ou odiaram, ou resignaram-se a esperar por eles, com filhos nos braços. 
Voaram para os resgatar do mato, onde chegaram mesmo a morrer por eles, e organizaram-se, com maior ou menor cunho ideológico, para lhes aliviar a saudade, enquanto apoiavam as suas famílias. Arriscaram por eles, protegendo-lhes a retaguarda, contestando a guerra, desertando sem saberem quando voltariam ao seu país, mergulhando na clandestinidade e aderindo à luta armada, sujeitas às sevícias da polícia política e perdendo a juventude nas masmorras da prisão. Trataram deles quando voltaram, mutilados e traumatizados, e habituaram-se a amar homens diferentes daqueles com quem haviam casado. Cada uma à sua maneira, as protagonistas deste livro foram pioneiras, desbravando 
caminhos outrora vedados às mulheres. Mães, irmãs, filhas, amantes, companheiras, amigas, muitas mulheres viveram a guerra colonial como se também elas tivessem sido mobilizadas. Depois da guerra, também para elas nada foi como dantes.









sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

FRAGMENTOS

A guerra esse maldito teatro, onde a morte está sempre representada, deixando nos intervenientes marcas irreversíveis! As imagens ficam indelével na nossa memória, e não nos deixam repousar...continuamos até morrer numa guerra latente!




terça-feira, 13 de janeiro de 2015

EX-COMBATENTES DA GUERRA COLONIAL SÃO GRUPO DE RISCO(HEPATITE))

Muitos ex-combatentes da Guerra Colonial começam agora a descobrir, quase 50 anos depois, que contraíram hepatite B ou C, doença que pode ser fatal, alertou a associação portuguesa que dá apoio aos doentes hepáticos.
“Temos hoje imensas pessoas que descobrem que estão infectadas, mas já o estão há mais de 40 anos, como o caso dos ex-combatentes”, afirmou a presidente da Associação SOS Hepatites, nas vésperas do Dia Mundial da doença, que se assinala quinta-feira, dia 28 de Julho.
Esta organização suspeita que os ex-combatentes foram expostos ao vírus em território português, porque antes de embarcarem para África levavam, em grupo, uma vacina, que era administrada sem os cuidados necessários.
“Eram colocados em fila e a agulha era reutilizada muitas vezes. Isso deu origem a muitas infecções. Tenho casos de homens com 66/67 anos que descobriram por mero acaso. Andavam cansados, foram ao médico e descobrem que têm uma hepatite desde o tempo da Guerra”, contou Emília Rodrigues.
Quando a doença é detectada tarde, as consequências são as piores: cancro e cirroses, que aumentam as probabilidades de um desfecho fatal. Em Portugal não há dados de prevalência das hepatites, mas com base em projecções da Organização Mundial de Saúde estimam-se 120 mil portadores de hepatite B e 170 mil de hepatite C.





sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A SORTE

Todos os que passaram pelas três frentes da guerra, tiveram momentos de sorte e de azar. Ver nascer o Sol já era considerado sorte, no entanto outros imponderáveis surgiam por trás do Sol posto!
Este relato demonstra que a sorte é uma roleta russa. Deixo este testemunho que demonstra que a fronteira entre a sorte e o azar é mínima.
"Aerograma(Bate estradas) foi-me devolvido tal como está, traçado de balas ou
estilhaços na emboscada de 26/10/1971, efectuada a Coluna
Piche-N.Lamego, em que faleceram o Al.Mil. Soares, o 1º. Cabo Cruz, o
sold.Cond. Ferreira e o Sold. Manuel Pereira, todos da CART 3332.
Guardo-o religiosamente comigo..."
Carlos Alberto Carvalho



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A AJUDA QUE VINHA DO CÉU


Quem foram as primeiras paraquedistas que de bata branca ou de camuflado entram na guerra em missão de paz.
Largaram os hospitais onde trabalhavam, deixaram a família preocupada, adiaram casamentos e filhos para mais tarde. De modo voluntário, aos vinte e poucos anos, atrasaram as vidas. Conhecidas como as << As Seis Marias>>, foram as primeiras enfermeiras paraquedistas a irem à guerra.
Um tributo a todas elas, algumas já partiram, no entanto aqui ficam registados os seus nomes:

Maria de Lourdes Rodrigues
Maria do Céu da Cruz Policarpo
Maria Arminda Lopes Pereira
Maria Zulmira Pereira André
Maria Nazaré Morais Rosa de Mascarenhas e Andrade
Maria Ivone Quintino dos Reis




terça-feira, 10 de junho de 2014

DIA DE PORTUGAL E DOS EX-COMBATENTES

10 de Junho de 2014

Pois sempre nos ensinaram nas Escolas que os nossos antepassados. Descobriram Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor, Macau e Goa, Damão e Diu. Onde ainda se fala a Língua Portuguesa.
Jovens! A Liberdade é tão bela como uma Rosa, mas temos que ter muito cuidado e respeito por ela, pois tem também muitos espinhos
Camaradas Combatentes: Vivemos uma Juventude sofrida. Todos na Flor da Sua Vida.
É que foram, Dois Natais, Duas Páscoas, Dois Aniversários Natalícios, em Territórios
Inóspitos, mas Belos…Lindos e Tristes, a Milhares de Quilómetros da Mãe Pátria….
Não podemos também esquecer os nossos Pais, Mães, Irmãos, Esposas, Filhos,
Familiares e Amigos que sofreram tanto ou mais que Nós .
Portugueses, só são possível estimular os Jovens a servir Portugal, se todos, sem Demagogia e partidarismo soubermos Homenagear aqueles que serviram a Pátria e por Ela deram a Vida.
Viva os Combatentes.
Viva Portugal.
José Adelino Ferreira Nunes







quinta-feira, 29 de maio de 2014

AMIZADES

Resolvi escrever algo sobre a amizade e empatia na guerra. Todos nós tínhamos camaradas que nos diziam algo mais, foi o caso do Ilídio Figueira...um dos cozinheiros da Companhia, e como tal ajudava-nos a retemperar as forças em momentos muito especiais. Bastava fazer-mos uma caçada furtiva e entregar-lhe em mão um cabrito, ou um galináceo que se tinham "escapado" da sanzala mais próxima, e o banquete surgia.
Quis a vida que parti-se cedo demais, no entanto fica na memória o excelente homem que foi, tanto na guerra como posteriormente na sua vida civil.Um adeus... camarada, até um dia.



sexta-feira, 7 de março de 2014

METADES.....


"Tenho duas metades, uma é feita de sonhos e a outra de coragem. E as duas nunca se encontram."

Um corpo jaz na terra quente,alagado pelo sangue derramado de feridas que já não se fecham. O dia já não lhe sorri, de repente se fez noite cerrada.
Números e letras numa salganhada imperceptível...terra e sangue (mecanográfico) e ali ficaram como despojos duas metades de números desencontrados...pedaços de uma vida!












  

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O TEMPO

01 de Março de 2008

A construção do blogue da Onzima, teve como intenção dar a conhecer a nossa vivência por terras de Angola.
Dei a conhecer muitas das nossas aventuras pelas terras quentes e vermelhas, procurando reviver emoções e transmiti-las por palavras.
Este meu "caderno" ficará para memória futura.....
Um abraço de camaradagem a todos aqueles que como eu entrelaçaram a sua vida numa guerra, que sacrificou toda uma geração!





terça-feira, 22 de outubro de 2013

40 ANOS




40 anos, 40 vidas, 40 horas..... todas elas com o mesmo denominador comum...o tempo!
Aeroporto do Figo Maduro, em 22 de Outubro de 1973, um Boeing 707 aterrava, com centenas de jovens ávidos de uma nova vida e cheios de esperança de um futuro melhor, depois de 27 meses por terras de Angola.

Hoje, são recordações que se vão esfumando no tempo......



OUTRORA

01 de Março de 2008 A construção do blogue da Onzima, teve como intenção dar a conhecer a nossa vivência por terras de Angola. Dei a conh...