Os poemas que dissertam sobre a guerra, integram uma parte daqueles que transformaram os gritos de revolta, as lágrimas não contidas, o desespero de não alcançar o zénite, em suma o lamento de muitas vidas transformadas em palavras sentidas. Alguns porque conviveram com ela e outros porque "beberam" de todo um manancial existente. Desses quero destacar Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner.Dos que estiveram lá e que servem de paradigma, aqui deixo um pequeno fragmento poético extraído do livro "Memórias de um Combatente" da autoria de Joaquim da Silva Sousa. Que sofrimento meu Deus ser pai de dois rebentos Que eu amo tanto e vou ter que deixar, Ao mando de um governo que me vai fazer lutar, Cegos pelo poder, e de conservadores sedentos, De um Portugal que está para além do mar. Mas que mal eu fiz? Quem me fez mal? E contra quem eu vou lutar? Mas quem é que me fez mal para eu ter de matar? Que me estás tu a fazer oh meu Portugal, Que me ordena a morte em vez de amar. Revisitar os espaços da guerra é uma forma de drenagem de um drama interior, e como tal tem toda uma dimensão terapêutica(Margarida Calafate)...
sexta-feira, 5 de março de 2021
𝐑𝐄𝐕𝐈𝐒𝐈𝐓𝐀𝐑 𝐀 𝐆𝐔𝐄𝐑𝐑𝐀
Os poemas que dissertam sobre a guerra, integram uma parte daqueles que transformaram os gritos de revolta, as lágrimas não contidas, o desespero de não alcançar o zénite, em suma o lamento de muitas vidas transformadas em palavras sentidas. Alguns porque conviveram com ela e outros porque "beberam" de todo um manancial existente. Desses quero destacar Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner.Dos que estiveram lá e que servem de paradigma, aqui deixo um pequeno fragmento poético extraído do livro "Memórias de um Combatente" da autoria de Joaquim da Silva Sousa. Que sofrimento meu Deus ser pai de dois rebentos Que eu amo tanto e vou ter que deixar, Ao mando de um governo que me vai fazer lutar, Cegos pelo poder, e de conservadores sedentos, De um Portugal que está para além do mar. Mas que mal eu fiz? Quem me fez mal? E contra quem eu vou lutar? Mas quem é que me fez mal para eu ter de matar? Que me estás tu a fazer oh meu Portugal, Que me ordena a morte em vez de amar. Revisitar os espaços da guerra é uma forma de drenagem de um drama interior, e como tal tem toda uma dimensão terapêutica(Margarida Calafate)...
segunda-feira, 1 de março de 2021
𝐇𝐮𝐦𝐚𝐧𝐢𝐳𝐚𝐫 𝐨𝐬 𝐞𝐱-𝐜𝐨𝐦𝐛𝐚𝐭𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬
𝐅𝐚𝐥𝐞𝐜𝐞𝐮 𝐨 𝐭𝐞𝐧𝐞𝐧𝐭𝐞-𝐜𝐨𝐫𝐨𝐧𝐞𝐥 𝐌𝐚𝐫𝐜𝐞𝐥𝐢𝐧𝐨 𝐝𝐚 𝐌𝐚𝐭𝐚, 𝐯𝐢́𝐭𝐢𝐦𝐚 𝐝𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐩𝐚𝐧𝐝𝐞𝐦𝐢𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐧𝐚̃𝐨 𝐞𝐬𝐜𝐨𝐥𝐡𝐞 𝐡𝐞𝐫𝐨́𝐢𝐬 𝐨𝐮 𝐯𝐢𝐥𝐨̃𝐞𝐬.
𝐄 𝐚 𝐞𝐬𝐬𝐞 𝐩𝐫𝐨𝐩𝐨́𝐬𝐢𝐭𝐨 𝐞́ 𝐜𝐨𝐦 𝐚𝐥𝐠𝐮𝐦𝐚 𝐩𝐞𝐫𝐩𝐥𝐞𝐱𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐨𝐮 𝐚𝐜𝐨𝐦𝐩𝐚𝐧𝐡𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐨 𝐝𝐞𝐬𝐟𝐢𝐥𝐚𝐫 𝐝𝐞 𝐚𝐥𝐠𝐮𝐦𝐚𝐬 𝐨𝐩𝐢𝐧𝐢𝐨̃𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐚̃𝐨 𝐚𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐧𝐨 𝐞𝐬𝐩𝐚𝐜̧𝐨 𝐩𝐮́𝐛𝐥𝐢𝐜𝐨. 𝐎𝐬 𝐞𝐱𝐭𝐫𝐞𝐦𝐢𝐬𝐦𝐨𝐬, 𝐨𝐬 𝐨́𝐝𝐢𝐨𝐬, 𝐨 𝐚𝐜𝐢𝐫𝐫𝐚𝐫 𝐝𝐞 𝐚̂𝐧𝐢𝐦𝐨𝐬 𝐞𝐦 𝐪𝐮𝐞𝐬𝐭𝐨̃𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐟𝐚𝐳𝐞𝐦 𝐩𝐚𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐚 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐚 𝐡𝐢𝐬𝐭𝐨́𝐫𝐢𝐚, 𝐝𝐚 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐚 𝐦𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚 𝐜𝐨𝐥𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚. 𝐓𝐮𝐝𝐨 𝐩𝐨𝐝𝐞 𝐬𝐞𝐫 𝐝𝐢𝐬𝐜𝐮𝐭𝐢𝐝𝐨, 𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐩𝐨𝐝𝐞 𝐬𝐞𝐫 𝐝𝐞𝐛𝐚𝐭𝐢𝐝𝐨, 𝐚𝐬 𝐯𝐢𝐬𝐨̃𝐞𝐬 𝐝𝐚 𝐇𝐢𝐬𝐭𝐨́𝐫𝐢𝐚 𝐬𝐚̃𝐨 𝐭𝐨𝐝𝐚𝐬 𝐯𝐚́𝐥𝐢𝐝𝐚𝐬. 𝐏𝐨𝐫 𝐢𝐬𝐬𝐨 𝐞𝐱𝐢𝐬𝐭𝐞 𝐩𝐞𝐧𝐬𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨. 𝐏𝐨𝐫 𝐢𝐬𝐬𝐨 𝐧𝐚̃𝐨 𝐡𝐚́ 𝐯𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞𝐬 𝐚𝐛𝐬𝐨𝐥𝐮𝐭𝐚𝐬. 𝐎 𝐪𝐮𝐞 𝐣𝐚́ 𝐧𝐚̃𝐨 𝐞́ 𝐧𝐨𝐫𝐦𝐚𝐥 𝐞́ 𝐞𝐬𝐭𝐚 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐢𝐧𝐮𝐚𝐝𝐚 𝐯𝐨𝐧𝐭𝐚𝐝𝐞 𝐝𝐞 𝐚𝐛𝐫𝐢𝐫 𝐟𝐞𝐫𝐢𝐝𝐚𝐬 𝐧𝐚 𝐬𝐨𝐜𝐢𝐞𝐝𝐚𝐝𝐞, 𝐝𝐞 𝐞𝐱𝐚𝐥𝐭𝐚𝐫 𝐚̂𝐧𝐢𝐦𝐨𝐬 𝐞 𝐥𝐞𝐯𝐚𝐫 𝐚𝐨 𝐞𝐱𝐭𝐫𝐞𝐦𝐚𝐫 𝐝𝐞 𝐩𝐨𝐬𝐢𝐜̧𝐨̃𝐞𝐬 𝐞𝐦 𝐝𝐢𝐬𝐜𝐮𝐬𝐬𝐨̃𝐞𝐬 𝐦𝐮𝐢𝐭𝐚𝐬 𝐯𝐞𝐳𝐞𝐬 𝐢𝐧𝐮́𝐭𝐞𝐢𝐬, 𝐩𝐨𝐫 𝐞𝐬𝐭𝐞́𝐫𝐞𝐢𝐬. 𝐍𝐨 𝐦𝐞𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐩𝐚𝐧𝐝𝐞𝐦𝐢𝐚, 𝐚 𝐛𝐫𝐚𝐜̧𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐦 𝐮𝐦𝐚 𝐠𝐫𝐚𝐯𝐢́𝐬𝐬𝐢𝐦𝐚 𝐜𝐫𝐢𝐬𝐞 𝐞𝐜𝐨𝐧𝐨́𝐦𝐢𝐜𝐚 𝐞 𝐬𝐨𝐜𝐢𝐚𝐥, 𝐧𝐞𝐧𝐡𝐮𝐦𝐚 𝐝𝐞𝐬𝐭𝐚𝐬 𝐨𝐩𝐢𝐧𝐢𝐨̃𝐞𝐬 𝐛𝐨𝐦𝐛𝐚́𝐬𝐭𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐢𝐛𝐮𝐞𝐦 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐚 𝐫𝐞𝐬𝐨𝐥𝐮𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐞 𝐚𝐥𝐠𝐮𝐦 𝐩𝐫𝐨𝐛𝐥𝐞𝐦𝐚. 𝐏𝐞𝐥𝐨 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐚́𝐫𝐢𝐨. 𝐅𝐚𝐥𝐭𝐚 𝐚 𝐬𝐞𝐫𝐞𝐧𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐧𝐞𝐜𝐞𝐬𝐬𝐚́𝐫𝐢𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐚 𝐫𝐞𝐟𝐥𝐞𝐱𝐚̃𝐨 𝐬𝐞́𝐫𝐢𝐚 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐨𝐬 𝐚𝐬𝐬𝐮𝐧𝐭𝐨𝐬, 𝐪𝐮𝐞 𝐧𝐨𝐬 𝐬𝐚̃𝐨 𝐚𝐫𝐫𝐞𝐦𝐞𝐬𝐬𝐚𝐝𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐩𝐞𝐝𝐫𝐚𝐬 𝐞 𝐪𝐮𝐞 𝐦𝐞𝐫𝐞𝐜𝐢𝐚𝐦 𝐨𝐮𝐭𝐫𝐨 𝐭𝐫𝐚𝐭𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐩𝐨𝐫 𝐞𝐬𝐭𝐚𝐫𝐞𝐦 𝐢𝐧𝐭𝐢𝐦𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐫𝐞𝐥𝐚𝐜𝐢𝐨𝐧𝐚𝐝𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐬𝐨𝐦𝐨𝐬 (𝐞 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐪𝐮𝐞𝐫𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐬𝐞𝐫) 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐩𝐚𝐢́𝐬. 𝐎𝐬 𝐚̂𝐧𝐢𝐦𝐨𝐬 𝐞𝐱𝐚𝐥𝐭𝐚𝐫𝐚𝐦-𝐬𝐞 𝐩𝐨𝐫𝐪𝐮𝐞 𝐌𝐚𝐦𝐚𝐝𝐨𝐮 𝐁𝐚 𝐫𝐞𝐬𝐨𝐥𝐯𝐞𝐮 𝐞𝐬𝐜𝐫𝐞𝐯𝐞𝐫 𝐪𝐮𝐞 𝐨 𝐭𝐞𝐧𝐞𝐧𝐭𝐞-𝐜𝐨𝐫𝐨𝐧𝐞𝐥 𝐌𝐚𝐫𝐜𝐞𝐥𝐢𝐧𝐨 𝐝𝐚 𝐌𝐚𝐭𝐚 𝐞𝐫𝐚 “𝐮𝐦 𝐜𝐫𝐢𝐦𝐢𝐧𝐨𝐬𝐨 𝐝𝐞 𝐠𝐮𝐞𝐫𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐧𝐚̃𝐨 𝐦𝐞𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐫𝐞𝐬𝐩𝐞𝐢𝐭𝐨 𝐧𝐞𝐧𝐡𝐮𝐦”, 𝐮𝐦 𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐩𝐨́𝐬 𝐬𝐞𝐫 𝐜𝐨𝐧𝐡𝐞𝐜𝐢𝐝𝐚 𝐚 𝐬𝐮𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐭𝐞. 𝐄 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐚𝐥𝐞 𝐮𝐦𝐚 𝐨𝐩𝐢𝐧𝐢𝐚̃𝐨 𝐢𝐝𝐢𝐨𝐭𝐚? 𝐍𝐚𝐝𝐚. 𝐀𝐬𝐬𝐢𝐦 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐧𝐚𝐝𝐚 𝐣𝐮𝐬𝐭𝐢𝐟𝐢𝐜𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐚𝐬 𝐚𝐟𝐢𝐫𝐦𝐚𝐜̧𝐨̃𝐞𝐬 𝐭𝐞𝐧𝐡𝐚𝐦 𝐝𝐚𝐝𝐨 𝐨𝐫𝐢𝐠𝐞𝐦 𝐚 𝐮𝐦 𝐚𝐛𝐚𝐢𝐱𝐨-𝐚𝐬𝐬𝐢𝐧𝐚𝐝𝐨 𝐩𝐞𝐝𝐢𝐧𝐝𝐨 𝐚 𝐬𝐮𝐚 𝐞𝐱𝐭𝐫𝐚𝐝𝐢𝐜̧𝐚̃𝐨. 𝐄́ 𝐮𝐦 𝐜𝐢𝐝𝐚𝐝𝐚̃𝐨 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮𝐞̂𝐬, 𝐪𝐮𝐞𝐫𝐞𝐦 𝐞𝐱𝐭𝐫𝐚𝐝𝐢𝐭𝐚́-𝐥𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐨𝐧𝐝𝐞? 𝐄𝐦 𝐏𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐚𝐥 𝐚𝐢𝐧𝐝𝐚 𝐡𝐚́ 𝐥𝐢𝐛𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐝𝐞 𝐞𝐱𝐩𝐫𝐞𝐬𝐬𝐚̃𝐨 𝐞 𝐝𝐞 𝐩𝐞𝐧𝐬𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨, 𝐞 𝐚 𝐢𝐝𝐢𝐨𝐭𝐢𝐜𝐞 𝐧𝐚̃𝐨 𝐞́ 𝐜𝐫𝐢𝐦𝐢𝐧𝐚𝐥𝐢𝐳𝐚𝐝𝐚. 𝐏𝐨𝐫𝐞́𝐦, 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐭𝐞𝐫𝐢𝐚 𝐬𝐢𝐝𝐨 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐩𝐫𝐨𝐝𝐮𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐞𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐬𝐞 𝐫𝐞𝐟𝐥𝐞𝐭𝐢𝐬𝐬𝐞 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐚 𝐬𝐢𝐭𝐮𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐨𝐬 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐨𝐬 𝐞𝐱-𝐜𝐨𝐦𝐛𝐚𝐭𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬 – 𝐬𝐞𝐫𝐞𝐬 𝐡𝐮𝐦𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐚𝐢𝐧𝐝𝐚 𝐡𝐨𝐣𝐞 𝐯𝐢𝐯𝐞𝐦 𝐨𝐬 𝐭𝐞𝐫𝐫𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐞 𝐚𝐬 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐞𝐪𝐮𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚𝐬 𝐝𝐚 𝐠𝐮𝐞𝐫𝐫𝐚. 𝐒𝐚̃𝐨 𝐡𝐨𝐦𝐞𝐧𝐬 𝐭𝐚̃𝐨 𝐢𝐦𝐩𝐞𝐫𝐟𝐞𝐢𝐭𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐢𝐦𝐩𝐞𝐫𝐟𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐞́ 𝐮𝐦𝐚 𝐠𝐮𝐞𝐫𝐫𝐚, 𝐦𝐚𝐬 𝐬𝐚̃𝐨 𝐬𝐞𝐫𝐞𝐬 𝐡𝐮𝐦𝐚𝐧𝐨𝐬. 𝐀 𝐜𝐨𝐫𝐫𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐦𝐨𝐝𝐞𝐫𝐧𝐚 𝐝𝐞 𝐩𝐞𝐧𝐬𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐢𝐳-𝐧𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐧𝐚̃𝐨 𝐡𝐚́ 𝐡𝐞𝐫𝐨́𝐢𝐬 𝐧𝐚 𝐠𝐮𝐞𝐫𝐫𝐚, 𝐬𝐨́ 𝐡𝐚́ 𝐦𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐬𝐨𝐟𝐫𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐞 𝐚𝐧𝐠𝐮́𝐬𝐭𝐢𝐚. 𝐀 𝐠𝐮𝐞𝐫𝐫𝐚 𝐧𝐚̃𝐨 𝐞́ 𝐩𝐨𝐞𝐬𝐢𝐚, 𝐞́ 𝐮𝐦 𝐩𝐞𝐬𝐚𝐝𝐞𝐥𝐨 𝐨𝐧𝐝𝐞 𝐬𝐞𝐫𝐞𝐬 𝐡𝐮𝐦𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐦𝐚𝐭𝐚𝐦 𝐨𝐮𝐭𝐫𝐨𝐬 𝐬𝐞𝐫𝐞𝐬 𝐡𝐮𝐦𝐚𝐧𝐨𝐬, 𝐦𝐮𝐢𝐭𝐚𝐬 𝐯𝐞𝐳𝐞𝐬 𝐞𝐦 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐞𝐬𝐩𝐫𝐨𝐯𝐢𝐝𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐪𝐮𝐚𝐥𝐪𝐮𝐞𝐫 𝐡𝐮𝐦𝐚𝐧𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞. 𝐄 𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞𝐯𝐢𝐯𝐞𝐦 𝐬𝐚̃𝐨, 𝐦𝐮𝐢𝐭𝐚𝐬 𝐯𝐞𝐳𝐞𝐬, 𝐩𝐞𝐬𝐬𝐨𝐚𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐢𝐯𝐞𝐦 𝐚𝐭𝐨𝐫𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚𝐝𝐚𝐬 𝐩𝐞𝐥𝐨𝐬 𝐡𝐨𝐫𝐫𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐭𝐞𝐬𝐭𝐞𝐦𝐮𝐧𝐡𝐚𝐫𝐚𝐦. 𝐒𝐚̃𝐨 𝐚𝐬 𝐧𝐚𝐫𝐫𝐚𝐭𝐢𝐯𝐚𝐬 𝐩𝐨𝐥𝐢́𝐭𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐨𝐬 𝐩𝐫𝐨𝐜𝐮𝐫𝐚𝐦 𝐜𝐥𝐚𝐬𝐬𝐢𝐟𝐢𝐜𝐚𝐫 𝐞𝐦 𝐟𝐮𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐚 𝐩𝐫𝐨𝐩𝐚𝐠𝐚𝐧𝐝𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐞́ 𝐮́𝐭𝐢𝐥 𝐚̀𝐪𝐮𝐞𝐥𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐨𝐬 𝐞𝐧𝐯𝐢𝐚𝐫𝐚𝐦 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐜𝐨𝐦𝐛𝐚𝐭𝐞𝐫, 𝐞𝐦 𝐧𝐨𝐦𝐞 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐢𝐝𝐞𝐚́𝐫𝐢𝐨 𝐞𝐧𝐪𝐮𝐚𝐝𝐫𝐚𝐝𝐨 𝐧𝐮𝐦 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨𝐫𝐚𝐥. 𝐃𝐞𝐩𝐨𝐢𝐬 𝐦𝐮𝐝𝐚𝐦-𝐬𝐞 𝐨𝐬 𝐫𝐞𝐠𝐢𝐦𝐞𝐬 𝐞 𝐚𝐥𝐠𝐮𝐧𝐬 𝐧𝐚̃𝐨 𝐜𝐨𝐦𝐩𝐫𝐞𝐞𝐧𝐝𝐞𝐦 𝐪𝐮𝐞 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐦 𝐭𝐞𝐧𝐭𝐚𝐫 𝐚𝐩𝐚𝐠𝐚𝐫 𝐞𝐬𝐬𝐞𝐬 𝐩𝐞𝐫𝐢́𝐨𝐝𝐨𝐬 𝐝𝐚 𝐦𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚 𝐜𝐨𝐥𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚, 𝐦𝐚𝐬 𝐧𝐚̃𝐨 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐞𝐠𝐮𝐞𝐦 𝐚𝐩𝐚𝐠𝐚𝐫 𝐚 𝐦𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚 𝐝𝐨 𝐬𝐨𝐟𝐫𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐞 𝐝𝐚 𝐚𝐧𝐠𝐮́𝐬𝐭𝐢𝐚 𝐝𝐞 𝐪𝐮𝐞𝐦 𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐭𝐞𝐬𝐭𝐞𝐦𝐮𝐧𝐡𝐨𝐮. 𝐒𝐞 𝐜𝐚𝐥𝐡𝐚𝐫, 𝐨 𝐩𝐚𝐬𝐬𝐚𝐫 𝐝𝐨 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨 𝐬𝐞𝐦 𝐪𝐮𝐚𝐥𝐪𝐮𝐞𝐫 𝐫𝐞𝐜𝐨𝐧𝐡𝐞𝐜𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐬𝐞𝐮 𝐬𝐨𝐟𝐫𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨, 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐬𝐨𝐟𝐫𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐚𝐬 𝐬𝐮𝐚𝐬 𝐟𝐚𝐦𝐢́𝐥𝐢𝐚𝐬, 𝐩𝐨𝐝𝐞 𝐢𝐧𝐭𝐞𝐫𝐞𝐬𝐬𝐚𝐫 𝐚̀𝐪𝐮𝐞𝐥𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐬𝐩𝐞𝐫𝐚𝐦 𝐪𝐮𝐞 𝐚𝐜𝐨𝐧𝐭𝐞𝐜̧𝐚 𝐚 𝐭𝐨𝐝𝐨𝐬 𝐨𝐬 𝐞𝐱-𝐜𝐨𝐦𝐛𝐚𝐭𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐚𝐜𝐨𝐧𝐭𝐞𝐜𝐞𝐮 𝐚 𝐌𝐚𝐫𝐜𝐞𝐥𝐢𝐧𝐨 𝐝𝐚 𝐌𝐚𝐭𝐚: 𝐪𝐮𝐞 𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐬𝐢𝐥𝐞𝐧𝐜𝐢𝐞 𝐞𝐬𝐬𝐚 𝐞𝐱𝐢𝐬𝐭𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐬𝐞𝐦𝐩𝐫𝐞, 𝐧𝐚 𝐞𝐱𝐩𝐞𝐭𝐚𝐭𝐢𝐯𝐚 𝐝𝐞 𝐧𝐚̃𝐨 𝐭𝐞𝐫𝐞𝐦 𝐝𝐞 𝐬𝐞𝐫 𝐥𝐞𝐦𝐛𝐫𝐚𝐝𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐪𝐮𝐞, 𝐩𝐨𝐫 𝐩𝐫𝐞𝐜𝐨𝐧𝐜𝐞𝐢𝐭𝐨 𝐢𝐝𝐞𝐨𝐥𝐨́𝐠𝐢𝐜𝐨 𝐩𝐫𝐢𝐦𝐚́𝐫𝐢𝐨, 𝐫𝐞𝐜𝐮𝐬𝐚𝐫𝐚𝐦 𝐝𝐚𝐫 𝐚 𝐚𝐭𝐞𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐞 𝐨 𝐚𝐩𝐨𝐢𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐨𝐬 𝐞𝐱-𝐜𝐨𝐦𝐛𝐚𝐭𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬 𝐦𝐞𝐫𝐞𝐜𝐢𝐚𝐦. 𝐃𝐞𝐧𝐭𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟔 𝐚𝐧𝐨𝐬, 𝐏𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐚𝐥 𝐢𝐫𝐚́ 𝐜𝐞𝐥𝐞𝐛𝐫𝐚𝐫 𝐧𝐨𝐯𝐞𝐜𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 (𝟗𝟎𝟎!) 𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐞𝐧𝐪𝐮𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐧𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐢𝐧𝐝𝐞𝐩𝐞𝐧𝐝𝐞𝐧𝐭𝐞. 𝐀 𝐑𝐞𝐩𝐮́𝐛𝐥𝐢𝐜𝐚 𝐝𝐞𝐭𝐞𝐫𝐦𝐢𝐧𝐨𝐮 𝐪𝐮𝐞 𝐨 𝐬𝐢́𝐦𝐛𝐨𝐥𝐨 𝐦𝐚́𝐱𝐢𝐦𝐨 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮𝐞̂𝐬, 𝐚 𝐛𝐚𝐧𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚, 𝐭𝐢𝐯𝐞𝐬𝐬𝐞 𝐚 𝐦𝐚𝐢𝐨𝐫 𝐩𝐚𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐚 𝐬𝐮𝐚 𝐚́𝐫𝐞𝐚 𝐜𝐨𝐦 𝐚 𝐜𝐨𝐫 𝐯𝐞𝐫𝐦𝐞𝐥𝐡𝐚. 𝐎 𝐯𝐞𝐫𝐦𝐞𝐥𝐡𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐫𝐞𝐩𝐫𝐞𝐬𝐞𝐧𝐭𝐚 𝐨 𝐬𝐚𝐧𝐠𝐮𝐞 𝐝𝐞𝐫𝐫𝐚𝐦𝐚𝐝𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞, 𝐡𝐨𝐣𝐞, 𝐚𝐥𝐠𝐮𝐧𝐬 𝐩𝐨𝐬𝐬𝐚𝐦 𝐞𝐬𝐜𝐫𝐞𝐯𝐞𝐫 𝐝𝐢𝐬𝐩𝐚𝐫𝐚𝐭𝐞𝐬 𝐧𝐚 𝐥𝐢́𝐧𝐠𝐮𝐚 𝐝𝐞 𝐂𝐚𝐦𝐨̃𝐞𝐬. 𝐄 𝐬𝐞 𝐞𝐦 𝐯𝐞𝐳 𝐝𝐞 𝐝𝐢𝐬𝐩𝐚𝐫𝐚𝐭𝐞𝐬 𝐩𝐮𝐝𝐞́𝐬𝐬𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐝𝐢𝐬𝐜𝐮𝐭𝐢𝐫 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐬𝐚𝐫𝐚𝐫 𝐞𝐬𝐭𝐚 𝐟𝐞𝐫𝐢𝐝𝐚 𝐞 𝐠𝐚𝐫𝐚𝐧𝐭𝐢𝐫 𝐪𝐮𝐞 𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞𝐯𝐢𝐯𝐞𝐫𝐚𝐦 𝐩𝐨𝐬𝐬𝐚𝐦 𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐚𝐫 𝐝𝐞𝐬𝐜𝐚𝐧𝐬𝐨, 𝐝𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐚𝐬𝐬𝐢𝐦 𝐝𝐞𝐬𝐜𝐚𝐧𝐬𝐨 𝐚 𝐪𝐮𝐞𝐦 𝐨𝐬 𝐚𝐦𝐚? 𝐄𝐬𝐭𝐚 𝐬𝐢𝐦, 𝐬𝐞𝐫𝐢𝐚 𝐮𝐦𝐚 𝐝𝐢𝐬𝐜𝐮𝐬𝐬𝐚̃𝐨 𝐡𝐮𝐦𝐚𝐧𝐚.segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
𝐂𝐎𝐌𝐁𝐀𝐓𝐄𝐍𝐓𝐄𝐒
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
𝗔 𝗩𝗢𝗭 𝗗𝗔 𝗦𝗔𝗨𝗗𝗔𝗗𝗘
𝗘𝗨 𝗙𝗨𝗜 𝗨𝗠 𝗗𝗢𝗦 𝗖𝗢𝗠𝗕𝗔𝗧𝗘𝗡𝗧𝗘 𝗗𝗘 𝗢𝗟𝗜𝗩𝗘𝗜𝗥𝗔 𝗱𝗲 𝗙𝗥𝗔𝗗𝗘𝗦
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
𝐎 𝐢𝐦𝐢𝐧𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐧𝐚𝐮𝐟𝐫𝐚́𝐠𝐢𝐨 𝐝𝐨 𝐕𝐞𝐫𝐚 𝐂𝐫𝐮𝐳 𝐜𝐨𝐦 𝐦𝐢𝐥𝐡𝐚𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐞 𝐭𝐫𝐨𝐩𝐚𝐬 𝐚 𝐛𝐨𝐫𝐝𝐨
Lá fora ouve-se gritaria. Percebe-se que há muita agitação. A qualquer momento espera-se ordem para abandonar o navio. Receia-se ver o oceano invadir os corredores e os camarotes. Às 4 h 30 de uma noite sem sono, temeu-se pela vida. A bordo, regressaram do Ultramar três mil militares portugueses.
"Quase quatro anos de tropa, dois de Ultramar, sem incidentes. Será que vou morrer a caminho de casa?". Este era o pensamento que pairava na cabeça de muitos dos cerca de três mil militares que, na madrugada do dia 26 de maio de 1970, tentavam, a bordo do Vera Cruz, passar incólumes o Cabo das Tormentas. Foi quando, pelas 4 h 30, uma onda sísmica apanhou o paquete que os trazia de regresso a Lisboa, onde as famílias e as suas vidas os esperavam, para um recomeço, após tão longo interregno a "lutar pela pátria", em paragens africanas.
"Percebia-se que o navio vinha a grande velocidade. Ninguém dizia nada, mas estávamos todos acordados, até que se deu aquele incrível sarrabulho. O navio não tinha levantado a proa da água, ouviram-se estrondos. Saímos dos beliches e fomos espreitar. Havia gente vestida e com a bagagem, havia soldados em calções. Estavam todos agitados, sem saber o que fazer ou esperar. Ninguém percebia bem o que se passava, embora todos tivéssemos noção que era grave. Eu estava num grupo de seis do laboratório militar e era o mais velho. Pediram-me que tomasse uma decisão. Não tive dúvidas e fui claro: 'prefiro morrer afogado, a ser espezinhado nos corredores. Quem quiser sair, pode fazê-lo já. Por mim fecho tudo e esperamos todos aqui'. Assim foi. Ninguém dormiu, mas ali ficamos, em silêncio, alertas".
Na manhã seguinte era notório que o perigo maior tinha passado, mas os mais curiosos queriam ver para crer e entender o que se tinha passado. Nos porões, a água chegou à cintura dos militares que ali se encontravam. À superfície, havia vidros partidos, estilhados do que haviam sido as vidraças da cabine de comando; muitos ferros amolgados e retorcidos, guinchos e outros apetrechos arrancados pela raiz.
Mas, sentia-se a bonança no ar. Os militares apressaram-se a pôr a secar ao sol tudo o que as águas marinhas tinham encharcado: da roupa de cama, à farda, passando pelas coloridas almofadas e tecidos chineses muito em voga no Moçambique daqueles tempos.
Aos mais perspicazes não escapou um pequeno grande pormenor: o Vera Cruz tinha mudado de rumo e navegava de volta a Lourenço Marques. Soube-se mais tarde que os danos no paquete a isso tinham obrigado.
Houve alguma desilusão, claro, mas de regresso à cidade onde tinham passado os últimos anos, houve oportunidade para gastar os "tostões" moçambicanos que restavam nos bolsos, reaver dívidas que não haviam sido cobradas, pagar umas rodadas aos companheiros de armas e festejar com um belo bitoque na Cervejaria Portugália.
O reembarque foi dois ou três dias depois, sanadas que estavam as questões de segurança, mas ninguém esperava que novo contratempo os prendesse ao Vera Cruz ainda mais do que o esperado.
Efetivamente, o paquete avistou Lisboa em noite de Marchas Populares, não tendo, por isso, autorização para atracar em Alcântara. Feliz com a chegada, mas saturados de tantos atrasos, os militares resolveram manifestar o seu desagrado lançado borda fora as enxergas em que tinham dormido nas últimas semanas. Como a maré estava a encher, na manhã seguinte o Tejo parecia uma imensa cama, coberta por milhares de colchões que durante muitos dias foram dando à costa, do cais Rocha do Conde de Óbidos, até Cascais.
Escusado será dizer que nenhum eco se fez das atribulações da viagem ou do tremendo risco pelo qual passaram cerca de três mil jovens de regresso do Ultramar. A guerra e o regime já enfrentavam oposição que chegasse no início dessa década de setenta, a ultima do Estado Novo.
terça-feira, 25 de agosto de 2020
domingo, 23 de agosto de 2020
ADEUS MÃE
Hoje velhos e cansados, só temos recordações e saudade de todos aqueles que perdemos ao nosso redor clamando por um último pedido...Mãe entrego-me em teu regaço e protege-me! Este país desmembrado que desprezou toda uma juventude, que verteu o seu sangue em terras de África, não mereceu o nosso esforço!
terça-feira, 7 de julho de 2020
quarta-feira, 20 de maio de 2020
terça-feira, 12 de maio de 2020
ANGOLA EM TRÊS ETAPAS
domingo, 10 de novembro de 2019
ENCONTROS E DESENCONTROS
Nenhuma guerra é um lugar bom para se viver!
Muitos dos primeiros homens a irem para a guerra em Angola têm hoje oitenta e mais anos porque depois de saírem da tropa foram de novo chamados para irem para a guerra e continuam a juntar-se sessenta anos depois! Aqui deixo a minha singela homenagem a esses VALENTES.
Os convívios foram o mote para eu escrever estas linhas.
Muitos veteranos ainda são tratados pelos camaradas pela alcunha do tempo da guerra
Realizam-se convívios de veteranos por todo o país, cada grupo referente a uma unidade militar, reunindo-se anualmente em locais diferentes conforme a morada de cada organizador, ficando esses locais combinados em cada ano para o ano seguinte.
Nota-se que quantas mais dificuldades passaram essas unidades militares mais unidos se mantêm hoje os veteranos. Por exemplo as companhias de comandos juntam quase todos os seus elementos e, como é sabido, os comandos só atuavam em situações limite.
Saliento que as informações quanto às unidades militares da marinha e da força aérea não estão facilmente disponíveis, apesar dos meus esforços junto desses ramos das forças armadas não consegui obtê-las. Por outro lado, a quantidade de unidades militares da marinha e da força aérea foi muito inferior à quantidade de unidades mobilizadas pelo exército. Assim, a quantidade de convívios também é inferior e não são publicitados como acontece com os veteranos do exército. Eu sei que existem mais convívios mas não tenho informações válidas acerca dos mesmos.
Creio que a amostra estatística, para o fim em causa, é representativa da realidade. Apesar de ninguém saber ao certo quantos convívios acontecem em todo o país durante o ano, constatei a existência de muitos mais mas sem a informação útil para este trabalho. Muitos veteranos de muitas unidades militares não voltaram a encontrar-se, outros têm o contacto de apenas alguns camaradas. Recebi informação de sete companhias que nunca fizeram convívios. É pena porque só temos uma vida e já muito curta.
Em cada convívio os familiares são mais do que os veteranos. Alguns já levam os bisnetos.
Esta análise é feita no pressuposto que os números fornecidos pelos veteranos estão certos ou muito próximo da realidade. Por outro lado, as unidades militares consideradas são só as do exército, mas não todas. Creio que podemos multiplicar por cinco os valores de despesa anual, considerada nesta análise, atendendo à quantidade de unidades militares envolvidas na guerra e a que muitos convívios nem são anunciados por ficarem combinados de uns anos para os outros.
Só no site dos “veteranos da guerra do ultramar” foram publicitados os convívios constantes na tabela C.
Considerando os 4088 veteranos e outros tantos familiares, a uma média de 30 € por cada refeição, dá cerca 245.280 €. Há a acrescentar a este valor as despesas de deslocação e alojamento as quais são superiores ao valor da refeição, pelo que a despesa global, só dos convívios de que tive informação válida, rondará o meio milhão de euros por ano.
Como estes valores se referem apenas a uma pequena parte dos convívios, creio que os valores globais serão superiores a dois milhões de euros.
Podemos afirmar que o impacto destes valores sobre a economia do país não é significativo, mas é de facto significativo para os restaurantes, por todo o país, onde decorrem estes encontros. São muitas vezes estabelecimentos com gestão familiar ou em espaços de entidades sem fins lucrativos. A minha experiência é de que existem restaurantes que não querem receber estes encontros. Houve um que me pediu 55€ por pessoa, em 2008, o que indicia que não estava interessado no negócio.
O grande impacto dos convívios dá-se sobre os próprios veteranos. É um avivar de memórias, é um exorcizar de vivências, de recalcamentos, de fantasmas, de frustrações e um repensar nos prejuízos, não contabilizáveis, na vida pessoal motivados por passarem três anos no serviço militar de forma obrigatória, enclausurados na guerra. O serviço militar, naquela época, serviu para melhorar a socialização de cada individuo, em especial os jovens do interior, e a guerra ajudou a perceber o papel que cada um desempenha na sociedade.
Ao fim de alguns anos os convívios são autênticas reuniões de família. Fala-se de tudo excepto de política, acompanha-se as felicidades e infelicidades de cada um ao longo do tempo, agora que todos temos mais de 67 anos, todos os anos falta mais um. É a vida.
É significativo que muitos veteranos ainda são tratados pelos camaradas pela alcunha do tempo da guerra, e isso implica uma carga emotiva muito grande que os faz reviver o passado.
Houve companhias formadas com um ou dois rapazes de cada concelho, pelo que hoje quando se reúnem estão sempre representados muitos concelhos e distritos do país. Tal como enquanto militares, muitos tiveram a oportunidade de conhecer usos e costumes de outras regiões, hoje essa troca de culturas regionais continua o que conduziu, e conduz, a uma maior homogeneização da sociedade.
Quando olhamos para trás no tempo custa-nos ver que fomos para a guerra enganados e continuamos a ser mal tratados enquanto veteranos de guerra. Talvez alguém esteja à espera que morram ‘mais uns quantos’ para depois muito ‘bondosamente’ distribuir mais umas migalhas pelos veteranos que restem.
Fica aqui este apontamento. Eu, como autor e testemunho, quero agradecer a todos aqueles que colaboraram com informações simples mas preciosas para que este trabalho pudesse existir.
Deixo, com carinho, a minha singela homenagem a todos aqueles que já partiram.
(Daniel Graça )– BCAÇ 2929 – Guiné 70/72
Lic. em Economia pelo ISEG – Lisboa
OUTRORA
01 de Março de 2008 A construção do blogue da Onzima, teve como intenção dar a conhecer a nossa vivência por terras de Angola. Dei a conh...

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𝗔 𝗵𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮 𝗱𝗼𝘀 𝗵𝗼𝗺𝗲𝗻𝘀 𝗲́ 𝗶𝗻𝘀𝗰𝗿𝗶𝘁𝗮 𝗲𝗺 𝗺𝘂𝗶𝘁𝗮𝘀 𝗱𝗲 𝘀𝘂𝗮𝘀 𝗽𝗮́𝗴𝗶𝗻𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗺 𝘂𝗺𝗮 𝗰𝗼𝗿 𝗽𝗲𝘀𝗮...