segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
𝐂𝐎𝐌𝐁𝐀𝐓𝐄𝐍𝐓𝐄𝐒
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
𝗔 𝗩𝗢𝗭 𝗗𝗔 𝗦𝗔𝗨𝗗𝗔𝗗𝗘
𝗘𝗨 𝗙𝗨𝗜 𝗨𝗠 𝗗𝗢𝗦 𝗖𝗢𝗠𝗕𝗔𝗧𝗘𝗡𝗧𝗘 𝗗𝗘 𝗢𝗟𝗜𝗩𝗘𝗜𝗥𝗔 𝗱𝗲 𝗙𝗥𝗔𝗗𝗘𝗦
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
𝐎 𝐢𝐦𝐢𝐧𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐧𝐚𝐮𝐟𝐫𝐚́𝐠𝐢𝐨 𝐝𝐨 𝐕𝐞𝐫𝐚 𝐂𝐫𝐮𝐳 𝐜𝐨𝐦 𝐦𝐢𝐥𝐡𝐚𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐞 𝐭𝐫𝐨𝐩𝐚𝐬 𝐚 𝐛𝐨𝐫𝐝𝐨
Lá fora ouve-se gritaria. Percebe-se que há muita agitação. A qualquer momento espera-se ordem para abandonar o navio. Receia-se ver o oceano invadir os corredores e os camarotes. Às 4 h 30 de uma noite sem sono, temeu-se pela vida. A bordo, regressaram do Ultramar três mil militares portugueses.
"Quase quatro anos de tropa, dois de Ultramar, sem incidentes. Será que vou morrer a caminho de casa?". Este era o pensamento que pairava na cabeça de muitos dos cerca de três mil militares que, na madrugada do dia 26 de maio de 1970, tentavam, a bordo do Vera Cruz, passar incólumes o Cabo das Tormentas. Foi quando, pelas 4 h 30, uma onda sísmica apanhou o paquete que os trazia de regresso a Lisboa, onde as famílias e as suas vidas os esperavam, para um recomeço, após tão longo interregno a "lutar pela pátria", em paragens africanas.
"Percebia-se que o navio vinha a grande velocidade. Ninguém dizia nada, mas estávamos todos acordados, até que se deu aquele incrível sarrabulho. O navio não tinha levantado a proa da água, ouviram-se estrondos. Saímos dos beliches e fomos espreitar. Havia gente vestida e com a bagagem, havia soldados em calções. Estavam todos agitados, sem saber o que fazer ou esperar. Ninguém percebia bem o que se passava, embora todos tivéssemos noção que era grave. Eu estava num grupo de seis do laboratório militar e era o mais velho. Pediram-me que tomasse uma decisão. Não tive dúvidas e fui claro: 'prefiro morrer afogado, a ser espezinhado nos corredores. Quem quiser sair, pode fazê-lo já. Por mim fecho tudo e esperamos todos aqui'. Assim foi. Ninguém dormiu, mas ali ficamos, em silêncio, alertas".
Na manhã seguinte era notório que o perigo maior tinha passado, mas os mais curiosos queriam ver para crer e entender o que se tinha passado. Nos porões, a água chegou à cintura dos militares que ali se encontravam. À superfície, havia vidros partidos, estilhados do que haviam sido as vidraças da cabine de comando; muitos ferros amolgados e retorcidos, guinchos e outros apetrechos arrancados pela raiz.
Mas, sentia-se a bonança no ar. Os militares apressaram-se a pôr a secar ao sol tudo o que as águas marinhas tinham encharcado: da roupa de cama, à farda, passando pelas coloridas almofadas e tecidos chineses muito em voga no Moçambique daqueles tempos.
Aos mais perspicazes não escapou um pequeno grande pormenor: o Vera Cruz tinha mudado de rumo e navegava de volta a Lourenço Marques. Soube-se mais tarde que os danos no paquete a isso tinham obrigado.
Houve alguma desilusão, claro, mas de regresso à cidade onde tinham passado os últimos anos, houve oportunidade para gastar os "tostões" moçambicanos que restavam nos bolsos, reaver dívidas que não haviam sido cobradas, pagar umas rodadas aos companheiros de armas e festejar com um belo bitoque na Cervejaria Portugália.
O reembarque foi dois ou três dias depois, sanadas que estavam as questões de segurança, mas ninguém esperava que novo contratempo os prendesse ao Vera Cruz ainda mais do que o esperado.
Efetivamente, o paquete avistou Lisboa em noite de Marchas Populares, não tendo, por isso, autorização para atracar em Alcântara. Feliz com a chegada, mas saturados de tantos atrasos, os militares resolveram manifestar o seu desagrado lançado borda fora as enxergas em que tinham dormido nas últimas semanas. Como a maré estava a encher, na manhã seguinte o Tejo parecia uma imensa cama, coberta por milhares de colchões que durante muitos dias foram dando à costa, do cais Rocha do Conde de Óbidos, até Cascais.
Escusado será dizer que nenhum eco se fez das atribulações da viagem ou do tremendo risco pelo qual passaram cerca de três mil jovens de regresso do Ultramar. A guerra e o regime já enfrentavam oposição que chegasse no início dessa década de setenta, a ultima do Estado Novo.
terça-feira, 25 de agosto de 2020
domingo, 23 de agosto de 2020
ADEUS MÃE
Hoje velhos e cansados, só temos recordações e saudade de todos aqueles que perdemos ao nosso redor clamando por um último pedido...Mãe entrego-me em teu regaço e protege-me! Este país desmembrado que desprezou toda uma juventude, que verteu o seu sangue em terras de África, não mereceu o nosso esforço!
terça-feira, 7 de julho de 2020
quarta-feira, 20 de maio de 2020
terça-feira, 12 de maio de 2020
ANGOLA EM TRÊS ETAPAS
domingo, 10 de novembro de 2019
ENCONTROS E DESENCONTROS
Nenhuma guerra é um lugar bom para se viver!
Muitos dos primeiros homens a irem para a guerra em Angola têm hoje oitenta e mais anos porque depois de saírem da tropa foram de novo chamados para irem para a guerra e continuam a juntar-se sessenta anos depois! Aqui deixo a minha singela homenagem a esses VALENTES.
Os convívios foram o mote para eu escrever estas linhas.
Muitos veteranos ainda são tratados pelos camaradas pela alcunha do tempo da guerra
Realizam-se convívios de veteranos por todo o país, cada grupo referente a uma unidade militar, reunindo-se anualmente em locais diferentes conforme a morada de cada organizador, ficando esses locais combinados em cada ano para o ano seguinte.
Nota-se que quantas mais dificuldades passaram essas unidades militares mais unidos se mantêm hoje os veteranos. Por exemplo as companhias de comandos juntam quase todos os seus elementos e, como é sabido, os comandos só atuavam em situações limite.
Saliento que as informações quanto às unidades militares da marinha e da força aérea não estão facilmente disponíveis, apesar dos meus esforços junto desses ramos das forças armadas não consegui obtê-las. Por outro lado, a quantidade de unidades militares da marinha e da força aérea foi muito inferior à quantidade de unidades mobilizadas pelo exército. Assim, a quantidade de convívios também é inferior e não são publicitados como acontece com os veteranos do exército. Eu sei que existem mais convívios mas não tenho informações válidas acerca dos mesmos.
Creio que a amostra estatística, para o fim em causa, é representativa da realidade. Apesar de ninguém saber ao certo quantos convívios acontecem em todo o país durante o ano, constatei a existência de muitos mais mas sem a informação útil para este trabalho. Muitos veteranos de muitas unidades militares não voltaram a encontrar-se, outros têm o contacto de apenas alguns camaradas. Recebi informação de sete companhias que nunca fizeram convívios. É pena porque só temos uma vida e já muito curta.
Em cada convívio os familiares são mais do que os veteranos. Alguns já levam os bisnetos.
Esta análise é feita no pressuposto que os números fornecidos pelos veteranos estão certos ou muito próximo da realidade. Por outro lado, as unidades militares consideradas são só as do exército, mas não todas. Creio que podemos multiplicar por cinco os valores de despesa anual, considerada nesta análise, atendendo à quantidade de unidades militares envolvidas na guerra e a que muitos convívios nem são anunciados por ficarem combinados de uns anos para os outros.
Só no site dos “veteranos da guerra do ultramar” foram publicitados os convívios constantes na tabela C.
Considerando os 4088 veteranos e outros tantos familiares, a uma média de 30 € por cada refeição, dá cerca 245.280 €. Há a acrescentar a este valor as despesas de deslocação e alojamento as quais são superiores ao valor da refeição, pelo que a despesa global, só dos convívios de que tive informação válida, rondará o meio milhão de euros por ano.
Como estes valores se referem apenas a uma pequena parte dos convívios, creio que os valores globais serão superiores a dois milhões de euros.
Podemos afirmar que o impacto destes valores sobre a economia do país não é significativo, mas é de facto significativo para os restaurantes, por todo o país, onde decorrem estes encontros. São muitas vezes estabelecimentos com gestão familiar ou em espaços de entidades sem fins lucrativos. A minha experiência é de que existem restaurantes que não querem receber estes encontros. Houve um que me pediu 55€ por pessoa, em 2008, o que indicia que não estava interessado no negócio.
O grande impacto dos convívios dá-se sobre os próprios veteranos. É um avivar de memórias, é um exorcizar de vivências, de recalcamentos, de fantasmas, de frustrações e um repensar nos prejuízos, não contabilizáveis, na vida pessoal motivados por passarem três anos no serviço militar de forma obrigatória, enclausurados na guerra. O serviço militar, naquela época, serviu para melhorar a socialização de cada individuo, em especial os jovens do interior, e a guerra ajudou a perceber o papel que cada um desempenha na sociedade.
Ao fim de alguns anos os convívios são autênticas reuniões de família. Fala-se de tudo excepto de política, acompanha-se as felicidades e infelicidades de cada um ao longo do tempo, agora que todos temos mais de 67 anos, todos os anos falta mais um. É a vida.
É significativo que muitos veteranos ainda são tratados pelos camaradas pela alcunha do tempo da guerra, e isso implica uma carga emotiva muito grande que os faz reviver o passado.
Houve companhias formadas com um ou dois rapazes de cada concelho, pelo que hoje quando se reúnem estão sempre representados muitos concelhos e distritos do país. Tal como enquanto militares, muitos tiveram a oportunidade de conhecer usos e costumes de outras regiões, hoje essa troca de culturas regionais continua o que conduziu, e conduz, a uma maior homogeneização da sociedade.
Quando olhamos para trás no tempo custa-nos ver que fomos para a guerra enganados e continuamos a ser mal tratados enquanto veteranos de guerra. Talvez alguém esteja à espera que morram ‘mais uns quantos’ para depois muito ‘bondosamente’ distribuir mais umas migalhas pelos veteranos que restem.
Fica aqui este apontamento. Eu, como autor e testemunho, quero agradecer a todos aqueles que colaboraram com informações simples mas preciosas para que este trabalho pudesse existir.
Deixo, com carinho, a minha singela homenagem a todos aqueles que já partiram.
(Daniel Graça )– BCAÇ 2929 – Guiné 70/72
Lic. em Economia pelo ISEG – Lisboa
quinta-feira, 17 de outubro de 2019
"O TOYOTA VEIO PARA FICAR"
Toyota aplicou-se a um camarada nosso, que tinha como função alimentar alguns bicharocos que por lá tínhamos, mais em concreto os porcos que eram alimentados com as sobras dos nossas lautas refeições.
Passados 45 anos encontrou-se com o Frederico Santos e a velha máxima ainda se mantém: " O Toyota veio para ficar".
domingo, 13 de outubro de 2019
HOMENAGEM
OUTRORA
01 de Março de 2008 A construção do blogue da Onzima, teve como intenção dar a conhecer a nossa vivência por terras de Angola. Dei a conh...
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Espirito de equipe é superar todas as dificuldades em conjunto, e construir uma base de resistência em prol do grupo. Tive o previlégio de ...