sexta-feira, 26 de maio de 2017
WIKIPÉDIA MILITAR
Uma vida cerceada pela guerra onde tive momentos difíceis, alguns já se dissiparam com o decorrer do tempo.
Um historial de uma vida, de Mil cento e noventa e três dias.
Escola Prática de Cavalaria(EPC)------------------ -077 dias
Escola Prática do Serviço de Material(EPSM)-----076 dias
Direcção Geral de Material de Guerra(DGMG)---294 dias
Região Militar de Angola(RMA)--------------------806 dias
Partida para RMA no Navio Vera Cruz em 31-07-1971
Chegada a Luanda em 09-08-1971
Chegada ao Aeroporto Figo Maduro em 23-10-1973
quinta-feira, 11 de maio de 2017
MÃE, A GUERRA
Viram-nos partir. Por entre as lágrimas roubadas a um coração despedaçado, cravaram na memória o último sorrido brotado no último instante do último adeus. E eles foram. Olhavam o longe e procuravam sentir o bafo daqueles filhos paridos com dor, com amor, com a esperança de os verem serem homens, pais capazes de lhes darem os netos ansiados.
Viram-nos partir. Por entre a desolação do tempo consumido nas sombras de dias intermináveis, esperavam notícias. Às vezes apenas uma ou duas frases. “Mãe, está tudo bem.” “Mãe, hoje vou sair para uma missão.” E, afinal, nada estava bem. E, afinal, uma bomba, uma mina perdida, uma bala desgarrada cobravam-lhes o mundo. Cobravam-lhes a vida.
Longe, as mães, esperavam. Às vezes chegavam cartas. Muitas não sabiam lê-las. Esperavam pela noite. Aguardavam a chegada de uma vizinha, de um outro filho. Só então, naquele matraquear de palavras construídas a partir da escrita vinda de um além indefinido, percebiam a dimensão da tragédia.
Viram-nos partir. Nunca os viram regressar. Nunca a dor as abandonou. Nunca aqueles corações voltaram a experimentar a paz. Nunca aqueles rostos reconstruíram a memória dos dias felizes. Nunca aquelas lágrimas deixaram de lhes escorrer pelo rosto como punhais afiados. A dor é uma peçonha agarrada ao corpo. E o corpo chora. E o corpo daquelas mulheres vagueia no presente como um fantasma ancorado na memória de um passado cruel.
São mães cujos filhos morreram em África, numa guerra colonial prolongada para lá de toda a racionalidade. Tudo começou a ganhar uma outra dimensão quando no dia 4 de fevereiro de 1961 o MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola desencadeia um ataque à cadeia de Luanda. Morrem sete polícias e tudo muda. No dia 15 de março do mesmo ano, um outro passo é dado pela UPA - União das Populações de Angola. A norte, numa área que abrangia os distritos do Zaire, Uíje e Quanza-Norte, acontece um ataque tribal e daí nasce um massacre de populações brancas e trabalhadores negros originários de outras regiões.
Foram treze anos de guerra, sistematicamente condenada pela ONU e distribuída por três frentes: Angola, Guiné (a partir de 1963) e Moçambique (a partir de 1964). O 25 de Abril de 1974 coloca um ponto final no sofrimento de uma juventude portuguesa cujo futuro aparecia sempre condicionado pelo terror da partida para África. Alguns não compareciam às inspeções, outros desertavam. Muitos deles por rejeitarem a participação num conflito que condenavam. Do qual discordavam, numa altura em que praticamente toda a Europa colonial já se desfizera dos seus impérios. A maioria, porém, integrava os contingentes gerais.
Partiam. Não sabiam se regressavam. Milhares morreram na vastidão de África. Muitos outros milhares ficaram feridos. Alguns com mazelas físicas ou psicológicas para o resto da vida. Deles se fala com frequência. E na valorização desse sofrimento é demasiadas vezes esquecido um outro sofrimento. O das mães que choram em silêncio.
Fomos procurá-las. Encontrámos mulheres como Delta Monteiro, 90 anos, de Valpaços. De três filhos, só o mais velho foi para a guerra. Morreu no dia 25 de maio de 1973. Faltavam-lhe apenas dois meses para receber a guia de marcha e regressar ao convívio com aquela mãe que sempre viveu no campo, a vender batatas e hortaliças.
“Quando soube que o Carlos tinha de ir para a guerra, foi como uma facada que me deram”, diz Delta. Não sabe explicar, mas um pressentimento fê-la saber que nunca mais aquele filho regressaria com vida. A memória daquela mãe destroçada ainda hoje se fixa “naqueles olhos tão lindos, castanhos, brilhantes e grandes”. Nunca mais teve direito a sentir a força daqueles braços que lhe rodeavam o corpo e a apertavam com força mas também com doçura.
Todos as semanas, Carlos enviava um aerograma à mãe. O último foi expedido no exato dia em que morreu. Dizia apenas: “Vou ser rápido. Está a chegar a avioneta e eu não quero deixar a mãe sem notícias”. Aquela mãe jamais teria querido saber aquela notícia.
O general Spínola, ou alguém por ele, dirigiu uma carta a Delta Moreira. Para lhe dizer que o filho era um herói e morrera pela pátria. A carta funcionou como salvo conduto para o segundo filho não ir para a guerra. Mas aquela mãe não queria uma carta do general Spínola. Não queria um herói. Só queria ter em casa o José Carlos.
Tal como Helena Cardoso, 94 anos, que foi padeira em Rio Tinto, Gondomar. Sabia de um saber nunca ensinado que “a guerra era a morte”. Mãe de cinco filhos, sentiu-se como que esventrada ao ver o mais velho, José Moreira Regadas, partir para Angola. Esperava notícias, mas as notícias não chegavam. O primeiro aerograma demorou uma eternidade até aterrar em Rio Tinto. Helena chorava. Chorava muito por nada saber de José. Até que um dia lhe chega uma carta. Dizem-lhe que José fora ferido e iria regressar. O José que regressou não era o mesmo José que partira. Atingido por uma mina, perdera toda a autonomia. Não se mexia. “Tempos difíceis, pesados como chumbo”, recorda Helena.
Cada história é um novo poço de tristeza. Às vezes são lutos eternos, os vividos por mães como Rosa Jado, 99 anos. Falar do filho Domingos é, ainda hoje, uma impossibilidade. Domingos foi mobilizado para Angola. Regressou em muito mau estado. Acabou por morrer. Rosa começa por aceitar conversar. Só que, para Rosa, a dor é tamanha: verbaliza a palavra “Angola” e nada mais a retira do pranto em que esmorece. Não há mais nenhuma palavra. Porque nenhuma palavra consegue descrever o sofrimento destas mulheres.
Entre 1961 e 1974, a ditadura portuguesa fez sangrar o país em três frentes de combate colonial. Segundo números oficiais, quando se chega a 1974, ano em que foram mobilizados 150 mil efetivos militares para o esforço de guerra em África, entre 7% a 10% da população portuguesa, e mais de 90% da juventude masculina, tinha sido de alguma forma envolvida na guerra.
Em 13 anos morreram mais de 8 mil soldados e ficaram feridos ou incapacitados mais de 100 mil portugueses. Os danos psicológicos são difíceis de contabilizar, mas alguns especialistas da área da psiquiatria apontam para mais de 140 mil portugueses psicologicamente afetados pela guerra.
Dados do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) permitem concluir que morreram 8.831 militares portugueses, dos quais 4.027 em combate. A maioria das mortes ocorreu em Angola (3 455). Seguem-se Moçambique (3 136) e a Guiné (2 240).
Aqueles números, ao referirem apenas os militares mortos, estão longe de traduzir a realidade, uma vez que não incluem as vítimas mortais de civis brancos e negros, tanto entre os guerrilheiros dos movimentos de libertação como entre a população civil.
sábado, 6 de maio de 2017
O ESQUECIMENTO.....
«A escolha da designação da guerra que os portugueses travaram entre 1961 e 1975 não é inocente e, como se tornou um motivo de polémica, ainda menos inocente é. No entanto, penso que não é tão importante como isso, nem precisa de suscitar grandes exaltações, à medida que o tempo vai assentando. Na verdade, a guerra no Ultramar foi uma guerra colonial, e não há modo de lhe dar a volta se tratarmos apenas do conteúdo. Começou como guerra colonial, desenvolveu-se como guerra colonial, gerou as tensões no Ultramar e na metrópole típicas de uma guerra colonial, atingiu soldados, colonos brancos e guineenses, moçambicanos e angolanos, como uma guerra colonial, levou à queda de uma ditadura por ser uma guerra colonial, logo perdida à cabeça e sem solução militar, acabou como uma guerra colonial, e continuou, nas suas sequelas de guerra civil, como acontece com os efeitos de uma guerra colonial.
Para quem se lhe opôs, desde os desertores, os refractários, os militantes contra a guerra nas escolas e fábricas, os partidos clandestinos que combatiam a ditadura, ninguém a designa a não ser como guerra colonial. Para os nacionalistas africanos que combateram com armas as Forças Armadas Portuguesas, também não lhes passa pela cabeça chamar à guerra outra coisa que não colonial. Penso, com o risco deste tipo de previsões, que ficará na História como guerra colonial, pelo simples facto de ter sido… uma guerra colonial.
Mas há outro lado: muitas centenas de milhares de portugueses combateram na guerra, muitas mães, namoradas e esposas conheceram a espera sobressaltada e o sofrimento com mortes, feridos e feridas, algumas das quais nunca sararam. Ouvi recentemente alguns depoimentos de soldados, e das mulheres que esperavam, e percebe-se muito bem porque a designação guerra colonial os incomoda, mesmo que, ao falarem da sua experiência militar, se perceba até que ponto foram forçados a fazerem-na, sofreram ao fazerem-na, e olham para ela com uma perspectiva muito mais crítica do que muitos opositores à guerra são capazes de ter. Por uma razão simples, eles fizeram-na e precisam, pela sua dignidade e identidade, que o seu esforço e risco não seja minimizado ou apoucado, pela parte que lhes cabe na condenação moral que tem a designação de guerra colonial. Eu nunca designaria a guerra a não ser como colonial, se à minha frente estivessem os seus responsáveis políticos e militares, nem os seus defensores actuais, mas não me incomoda vê-la designada como sendo do Ultramar por estes homens e mulheres. Até porque, de todos os que ouvi, nenhum achava que a guerra tinha sido justa, nenhum correu para a guerra porque acreditava nas virtudes do império, nenhum escondia as violências e os excessos e mesmo alguns sublinhavam como a guerra lhes destruiu quer a vida que desejavam ter, quer a que tiveram.
É também por isso, é que penso que o Estado e a comunidade lhes devem aquilo que nos países que conheceram grandes guerras, como os EUA e o Reino Unido, é o reconhecimento dos seus veteranos, e o esforço de os apoiar na sua vida tantas vezes difícil. E honrá-los como devem ser honrados porque a justiça e a injustiça das guerras que um país trava não ficam como julgamento moral dos que as combateram, mas sim naqueles que as decidiram.»
Para quem se lhe opôs, desde os desertores, os refractários, os militantes contra a guerra nas escolas e fábricas, os partidos clandestinos que combatiam a ditadura, ninguém a designa a não ser como guerra colonial. Para os nacionalistas africanos que combateram com armas as Forças Armadas Portuguesas, também não lhes passa pela cabeça chamar à guerra outra coisa que não colonial. Penso, com o risco deste tipo de previsões, que ficará na História como guerra colonial, pelo simples facto de ter sido… uma guerra colonial.
Mas há outro lado: muitas centenas de milhares de portugueses combateram na guerra, muitas mães, namoradas e esposas conheceram a espera sobressaltada e o sofrimento com mortes, feridos e feridas, algumas das quais nunca sararam. Ouvi recentemente alguns depoimentos de soldados, e das mulheres que esperavam, e percebe-se muito bem porque a designação guerra colonial os incomoda, mesmo que, ao falarem da sua experiência militar, se perceba até que ponto foram forçados a fazerem-na, sofreram ao fazerem-na, e olham para ela com uma perspectiva muito mais crítica do que muitos opositores à guerra são capazes de ter. Por uma razão simples, eles fizeram-na e precisam, pela sua dignidade e identidade, que o seu esforço e risco não seja minimizado ou apoucado, pela parte que lhes cabe na condenação moral que tem a designação de guerra colonial. Eu nunca designaria a guerra a não ser como colonial, se à minha frente estivessem os seus responsáveis políticos e militares, nem os seus defensores actuais, mas não me incomoda vê-la designada como sendo do Ultramar por estes homens e mulheres. Até porque, de todos os que ouvi, nenhum achava que a guerra tinha sido justa, nenhum correu para a guerra porque acreditava nas virtudes do império, nenhum escondia as violências e os excessos e mesmo alguns sublinhavam como a guerra lhes destruiu quer a vida que desejavam ter, quer a que tiveram.
É também por isso, é que penso que o Estado e a comunidade lhes devem aquilo que nos países que conheceram grandes guerras, como os EUA e o Reino Unido, é o reconhecimento dos seus veteranos, e o esforço de os apoiar na sua vida tantas vezes difícil. E honrá-los como devem ser honrados porque a justiça e a injustiça das guerras que um país trava não ficam como julgamento moral dos que as combateram, mas sim naqueles que as decidiram.»
quinta-feira, 30 de março de 2017
MONUMENTOS AOS COMBATENTES
A guerra colonial terminou há mais de quatro décadas, mas em Portugal continuam a inaugurar-se monumentos de homenagem aos militares mortos e já rondam os 300
Entre 1974 e 2003 foram erguidos 52 desses monumentos e que as restantes duas centenas e meia foram inauguradas nos últimos 13 anos .Por iniciativa das populações, das juntas de freguesia, das câmaras municipais e da Liga dos Combatentes ou dos seus 112 núcleos espalhados pelo país ,é a expressão de um sentimento profundo nacional acerca do que foi a guerra colonial e dos sacrifícios que o povo português fez nesse conflito".
Os dados oficiais indicam que a guerra colonial matou cerca de nove mil militares em Angola, Guiné e Moçambique, deixando ainda dezenas de milhares de soldados feridos e com deficiências de vários graus.
Entre 1974 e 2003 foram erguidos 52 desses monumentos e que as restantes duas centenas e meia foram inauguradas nos últimos 13 anos .Por iniciativa das populações, das juntas de freguesia, das câmaras municipais e da Liga dos Combatentes ou dos seus 112 núcleos espalhados pelo país ,é a expressão de um sentimento profundo nacional acerca do que foi a guerra colonial e dos sacrifícios que o povo português fez nesse conflito".
Os dados oficiais indicam que a guerra colonial matou cerca de nove mil militares em Angola, Guiné e Moçambique, deixando ainda dezenas de milhares de soldados feridos e com deficiências de vários graus.
IREMOS ATÉ ONDE A PÁTRIA FOR,
E SEJA EM PAZ,
OU SEJA EM GUERRA,
QUE ESTE CLAMOR
VIBRE IMORTAL,
DE MAR EM MAR,
DE SERRA EM SERRA:
PORTUGAL! PORTUGAL! PORTUGAL!
HINO DO EXÉRCITO, 1945,
LETRA DE ADOLFO S. MULLER
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
UM DOS QUE NÃO VOLTOU...
Um dos nossos companheiros que tombou ao serviço da pátria por uma causa sem nexo. Foi abandonado numa parcela de terra de cor vermelha, talvez misturada com o seu próprio sangue. Caiu sem poder se despedir dos que o amavam e o perderam para sempre.
Hoje passados 44 anos já pouco resta da sua campa, e não tardará o seu desaparecimento total. Os sucessivos governos nunca tiveram vontade política para trazer os milhares de militares que foram abandonados nas três frentes de combate..mereciam! Era uma obrigação de todos aqueles que viveram á sombra do nosso esforço e dedicação.
Hoje passados 44 anos já pouco resta da sua campa, e não tardará o seu desaparecimento total. Os sucessivos governos nunca tiveram vontade política para trazer os milhares de militares que foram abandonados nas três frentes de combate..mereciam! Era uma obrigação de todos aqueles que viveram á sombra do nosso esforço e dedicação.
Armando Silva de Jesus
Cruz de Guerra de 3.ª classe (Título póstumo)
Armando Silva de Jesus, Soldado Atirador n.º 17320271, natural da Terra Grande, freguesia de Serra de Água, concelho de Ribeira Brava, mobilizado pelo Batalhão Independente de Infantaria 19, para servir na Região Militar de Angola, integrado na Companhia de Caçadores 3411.
Tombou em combate no dia 22 de Janeiro 1973
Está sepultado no cemitério de Santana (Catete, Luanda), em Angola, no talhão militar, campa 23
sexta-feira, 6 de janeiro de 2017
MENU DA PASSAGEM DO ANO
Como qualquer cidadão do Mundo, também tínhamos a regalia de podermos apreciar a alta cozinha confeccionada por algumas estrelas Michelin.
E em algumas situações tinhamos o almoço fora com direito por vezes a foguetes de G3.
Para ficarem com água na boca deixo-vos aqui um dos menus premiados por alturas dos anos 60/70.
E em algumas situações tinhamos o almoço fora com direito por vezes a foguetes de G3.
Para ficarem com água na boca deixo-vos aqui um dos menus premiados por alturas dos anos 60/70.
sábado, 31 de dezembro de 2016
domingo, 25 de dezembro de 2016
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
ADEUS, ATÉ AO MEU REGRESSO
Este vídeo foi concluído em 1971 em Angola, mas em todas as outras províncias afectadas pela guerra o cenário era idêntico. Geravam-se por vezes cenas cómicas na altura das gravações devido ao nervosismo que se instalava nos militares que enviavam os seus votos de um Natal feliz e um ano muito próspero, e que por vezes devido ao já referenciado nervosismo se engasgavam e surgiam as "propriedades" em vasta quantidade.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
ESTANDARTES
Antigamente estandarte era a designação das bandeiras das unidades de cavalaria. No início do século XIX, os regimentos de cavalaria do Exército Português dispunham de quatro estandartes, distribuídos pelos quatro esquadrões que formavam as unidades. Cada um dos estandartes tinha uma cor determinada (azul, escarlate, amarelo ou branco) sobre o qual assentavam as armas reais. Actualmente, no Exército Português, os estandartes são as bandeiras de desfile das unidades de todas as armas. Nas unidades independentes existe um Estandarte Nacional e um estandarte regimental. Nas unidades incorporadas existe um estandarte de batalhão.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
PRISIONEIROS de GUERRA
Indivíduo, privado da liberdade. Indivíduo preso, encarcerado. Indivíduo aprisionado em ocasião de guerra.
Durante o período de 61/74 foram contabilizados nas três frentes da guerra colonial um total de 3099 prisioneiros.
A todos eles através do Decreto Lei nº 170/2004, foi-lhes concedida uma pensão mensal de 100€ .........
Durante o período de 61/74 foram contabilizados nas três frentes da guerra colonial um total de 3099 prisioneiros.
A todos eles através do Decreto Lei nº 170/2004, foi-lhes concedida uma pensão mensal de 100€ .........
domingo, 13 de novembro de 2016
ANGOLA UMA HISTÓRIA A RECORDAR.....
Descoberta e colonização de Angola pelos Portugueses
Em 1482, as caravelas do Reino de Portugal comandadas pelo navegador português Diogo Cão chegaram ao Reino do Congo. Seguiram-se outras expedições e estabeleceram-se relações entre os dois reinos. Os portugueses levaram armas de fogo, diversos desenvolvimentos tecnológicos, a escrita e uma nova religião, o Cristianismo. Em troca, o Reino do Congo ofereceu escravos, marfim e minerais e especiarias.
Em 1575, Paulo Dias de Novais funda Luanda com a designação de São Paulo da Assunção de Loanda. Dispondo de cerca de 100 famílias e 400 soldados, Novais estabelece uma "praça-forte" essencialmente destinada ao tráfico de escravos. Em 1605, a coroa portuguesa atribui o estatuto de cidade a Luanda. Várias infra-estruturas como fortes e portos foram construídas e mantidas pelos portugueses que, no entanto, não procederam à ocupação de um território maior, fixando-se apenas em certos pontos do interior imediato. Benguela, um forte desde 1587, passando a cidade em 1617, foi outro ponto estratégico fundado e administrado por Portugal. A presença portuguesa nestes pontos do litoral foi marcada por uma série de conflitos, tratados e disputas com as unidades políticas próximas, nomeadamente o Reino do Kongo, Reino do Ndongo e do Reino da Matamba.
Até à Independência do Brasil, a colónia angolana servia essencialmente para fornecer escravos, nomeadamente para a exploração de minérios no Brasil. Com a fuga da família real portuguesa para o Brasil, o comércio de escravos aumentou. A declaração de Independência do Brasil forçou Portugal a dar uma maior importância a Angola dada a perda dos recursos provenientes do seu ex-território americano. Naquela altura, alguns países europeus, nomeadamente a Inglaterra, a França, a Bélgica, a Alemanha, a Espanha e a Itália vinham a ter um papel cada vez mais destacado como potências imperialistas. África passa a ser uma região a explorar dados os seus recursos naturais, algumas importantes para o desenvolvimento industrial na Europa. Esta viragem deu origem, na segunda metade do século XIX, a uma "Corrida para a África" em que cada uma das potências europeias tentou assegurar-se o domínio de parcelas territoriais do continente. Ao fim de fortes disputas entre europeus, e depois de vencida a resistência oferecida por boa parte das unidades políticas africanas, África ficou, em inícios do século XX, dividida em colónias europeias, com a excepção da Etiópia.
A conquista portuguesa do território correspondente à actual Angola, a partir de Luanda e de Benguela, teve início em começos do século XIX, abrandou durante várias décadas, e retomou com força na segunda metade daquele século, já numa situação de concorrência com as outras potências europeias. O interesse económico imediato continuou a ser o tráfego de escravos, lentamente completado por outros tipos de comércio bem como por uma agricultura de plantações, geralmente de dimensão limitada, e trabalhados com recurso a mão-de-obra escrava.
O fim oficial da escravatura em Portugal data de 1878; em Angola, também a mesma data é apontada como, ao nível formal, o fim da escravidão. No entanto, e na prática, a exploração da mão-de-obra negra continuou através de um instrumento designado por “contrato” (em vigor até 1961), que consistia na contratação de ex-escravos pelos seus anteriores senhores. Em 1899, é criada uma nova lei de trabalho - Regulamento do trabalho dos indígenas - que concebia a noção de “trabalho forçado indígena” (habitantes autóctones das colónias).
A delimitação do território de Angola fez-se, no essencial, na Conferência de Berlim onde Portugal teve que fazer pesadas concessões. Por um lado foi rejeitado o Mapa cor-de-rosa que reclamava para Portugal uma extensa faixa que ligava Angola a Moçambique, incluindo os territórios da (hoje) Zâmbia, do Malawi e do Zimbabwe. Por outro lado, teve que ceder ao Congo Belga uma faixa substancial ao longo da foz do Rio Congo, de modo que o Congo Português ficou reduzido à enclave de Cabinda. Finalmente, teve que concordar em reconhecer o Rio Cunene como fronteira com a colónia alemã do Sudoeste Africano. Acertos de detalhe levaram décadas, de modo que as fronteiras definitivas de Angola só ficaram estabelecidas em meados dos anos 1920. É esta também a data em que se pôde falar de uma "ocupação efectiva" de todo o território. — com Mina Parente e Herminia Parente.
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
LENDAS DE ÁFRICA
A lagoa de Mufututu tem uma história de arrepiar.
Os habitantes da aldeia de Quimacuna,
a quatro quilómetros do Songo, fazem
lá uma cerimónia tradicional. O ritual serve para mostrar as maravilhas da
região.
Dizem os
antigos que os bagres fumados ou mesmo cozinhados mergulham nas profundezas da
lagoa e escondem-se numa gruta impenetrável. Há relatos impressionantes de
acontecimentos próprios do outro mundo. Uma coisa é certa: as pessoas estão
proibidas de mergulhar e pescar na lagoa Mufututu
São mitos ou
realidades que obrigaram a reportagem do caderno Fim-de-Semana a falar com o
mais velho da aldeia. Mateus Domingos, 74 anos, viveu sempre na aldeia Quimacuna. Revelou à nossa reportagem
factos inacreditáveis mas que ele garante serem verdadeiros. A lagoa Mufututu tem uma água cristalina e
pura. Quando se junta às águas do rio Dunda, fica esbranquiçada e forma um
separador bem visível: “todos sabemos que ninguém pode entrar na lagoa mas não
há aqui feitiço nenhum”, diz Mateus Domingos.
A lagoa foi
descoberta, por acaso, em 1922 ou 1923, pelo velho Nkelani. As águas límpidas
mostravam grandes quantidades de bagres. Resolveu colocar na água uma muzua
para pescar. Deixou a armadilha e foi-se embora para casa. No dia seguinte
regressou ao local e ficou espantado com o que viu.
A muzua
estava na margem, sem qualquer peixe. O velho Nkelani pensou que alguém tinha
tirado a armadilha do local. Voltou a colocar a muzua na lagoa e regressou a
casa. Quando o velho Nkelani regressou à lagoa de Mufututu, no dia seguinte, encontrou a muzua abarrotada de peixe.
Mas ficou aterrorizado, porque eram bagres fumados e cozidos. Só havia uma
pequena quantidade de peixe fresco. “Isto é verdade, ninguém pode duvidar
porque aconteceu mesmo”, garante Mateus Domingos.
Sonhos
prodigiosos..
Nkelani
voltou para casa apreensivo. Pelo caminho encontrou três porcos, matou um e os
outros dois fugiram. Mas o velho não levou o porco morto, continuou a caminhar,
sem perceber que os dois porcos fugitivos o perseguiam até à entrada da aldeia
de Quimacuna. Dias depois, Nkelani
apanhou uma doença e morreu. Antes de morrer, Nkelani teve uma visão. Os bagres
pediram-lhe para dizer ao povo de Quimacuna
para que ninguém tomasse banho ou pescasse na lagoa do Mufututu.
“Sempre que
vai haver acontecer alguma coisa boa, o soba da aldeia sonha com os bagres, é
assim que eles nos transmitem uma mensagem para nós tomarmos precaução”, contou
Mateus Domingos.
Peixes de
férias……
Os peixes da
lagoa do Mufututu entram de férias
nos meses de Março e Abril e só voltam em Junho. “É por isso que estamos a ver
poucos peixes e todos pequenos. Aqui há centenas de bagres colossos que, nesta
altura, foram visitar a mãe, na lagoa Dimina, na comuna do Kinvuenga, onde passam as suas férias”, revelou Mateus Domingos.
Antigamente
a mãe dos bagres vivia no Mufututu,
mas por causa das obras nas estradas foi alterado o curso de alguns riachos e
lagoas. Por isso a rainha dos bagres fantasmas foi parar à Dimina.
“Nós
apercebemos que ela tinha mudado de lagoa, porque enviou um sonho ao velho
Miguel Nsanga, que também já foi soba desta aldeia. A mãe dos bagres pediu para
cuidarmos bem dos seus filhos”, contou Mateus Domingos.
Antigamente
existia uma grande cidade dentro da lagoa. Quem duvidasse da sua existência,
era obrigado a mergulhar para ver com os seus olhos, mas isso só era possível
fazer depois da realização de um ritual tradicional. “Depois da mãe dos bagres
mudar de residência, a cidade desapareceu e agora só se vê uma luz verde lá no
fundo, esta é mesmo uma lagoa maravilhosa”, concluiu Mateus Domingos.
domingo, 9 de outubro de 2016
GUERRA COLONIAL OU GUERRA DO ULTRAMAR?
«A escolha da designação da guerra que os portugueses travaram entre 1961 e 1975 não é inocente e, como se tornou um motivo de polémica, ainda menos inocente é. No entanto, penso que não é tão importante como isso, nem precisa de suscitar grandes exaltações, à medida que o tempo vai assentando. Na verdade, a guerra no Ultramar foi uma guerra colonial, e não há modo de lhe dar a volta se tratarmos apenas do conteúdo. Começou como guerra colonial, desenvolveu-se como guerra colonial, gerou as tensões no Ultramar e na metrópole típicas de uma guerra colonial, atingiu soldados, colonos brancos e guineenses, moçambicanos e angolanos, como uma guerra colonial, levou à queda de uma ditadura por ser uma guerra colonial, logo perdida à cabeça e sem solução militar, acabou como uma guerra colonial, e continuou, nas suas sequelas de guerra civil, como acontece com os efeitos de uma guerra colonial.
Para quem se lhe opôs, desde os desertores, os refractários, os militantes contra a guerra nas escolas e fábricas, os partidos clandestinos que combatiam a ditadura, ninguém a designa a não ser como guerra colonial. Para os nacionalistas africanos que combateram com armas as Forças Armadas Portuguesas, também não lhes passa pela cabeça chamar à guerra outra coisa que não colonial. Penso, com o risco deste tipo de previsões, que ficará na História como guerra colonial, pelo simples facto de ter sido… uma guerra colonial.
É também por isso que penso que o Estado e a comunidade lhes devem aquilo que nos países que conheceram grandes guerras, como os EUA e o Reino Unido, é o reconhecimento dos seus veteranos, e o esforço de os apoiar na sua vida tantas vezes difícil. E honrá-los como devem ser honrados porque a justiça e a injustiça das guerras que um país trava não ficam como julgamento moral dos que as combateram, mas sim naqueles que as decidiram.»
José Pacheco Pereira
Mas há outro lado: muitas centenas de milhares de portugueses combateram na guerra, muitas mães, namoradas e esposas conheceram a espera sobressaltada e o sofrimento com mortes, feridos e feridas, algumas das quais nunca sararam. Ouvi recentemente alguns depoimentos de soldados, e das mulheres que esperavam, e percebe-se muito bem porque a designação guerra colonial os incomoda, mesmo que, ao falarem da sua experiência militar, se perceba até que ponto foram forçados a fazerem-na, sofreram ao fazerem-na, e olham para ela com uma perspectiva muito mais crítica do que muitos opositores à guerra são capazes de ter. Por uma razão simples, eles fizeram-na e precisam, pela sua dignidade e identidade, que o seu esforço e risco não seja minimizado ou apoucado, pela parte que lhes cabe na condenação moral que tem a designação de guerra colonial. Eu nunca designaria a guerra a não ser como colonial, se à minha frente estivessem os seus responsáveis políticos e militares, nem os seus defensores actuais, mas não me incomoda vê-la designada como sendo do Ultramar por estes homens e mulheres. Até porque, de todos os que ouvi, nenhum achava que a guerra tinha sido justa, nenhum correu para a guerra porque acreditava nas virtudes do império, nenhum escondia as violências e os excessos e mesmo alguns sublinhavam como a guerra lhes destruiu quer a vida que desejavam ter, quer a que tiveram.
É também por isso que penso que o Estado e a comunidade lhes devem aquilo que nos países que conheceram grandes guerras, como os EUA e o Reino Unido, é o reconhecimento dos seus veteranos, e o esforço de os apoiar na sua vida tantas vezes difícil. E honrá-los como devem ser honrados porque a justiça e a injustiça das guerras que um país trava não ficam como julgamento moral dos que as combateram, mas sim naqueles que as decidiram.»
José Pacheco Pereira
Subscrever:
Mensagens (Atom)
OUTRORA
01 de Março de 2008 A construção do blogue da Onzima, teve como intenção dar a conhecer a nossa vivência por terras de Angola. Dei a conh...
-
Lá fora ouve-se gritaria. Percebe-se que há muita agitação. A qualquer momento espera-se ordem para abandonar o navio. Receia-se ver o ocea...
-
Espirito de equipe é superar todas as dificuldades em conjunto, e construir uma base de resistência em prol do grupo. Tive o previlégio de ...