A lagoa de Mufututu tem uma história de arrepiar.
Os habitantes da aldeia de Quimacuna,
a quatro quilómetros do Songo, fazem
lá uma cerimónia tradicional. O ritual serve para mostrar as maravilhas da
região.
Dizem os
antigos que os bagres fumados ou mesmo cozinhados mergulham nas profundezas da
lagoa e escondem-se numa gruta impenetrável. Há relatos impressionantes de
acontecimentos próprios do outro mundo. Uma coisa é certa: as pessoas estão
proibidas de mergulhar e pescar na lagoa Mufututu
São mitos ou
realidades que obrigaram a reportagem do caderno Fim-de-Semana a falar com o
mais velho da aldeia. Mateus Domingos, 74 anos, viveu sempre na aldeia Quimacuna. Revelou à nossa reportagem
factos inacreditáveis mas que ele garante serem verdadeiros. A lagoa Mufututu tem uma água cristalina e
pura. Quando se junta às águas do rio Dunda, fica esbranquiçada e forma um
separador bem visível: “todos sabemos que ninguém pode entrar na lagoa mas não
há aqui feitiço nenhum”, diz Mateus Domingos.
A lagoa foi
descoberta, por acaso, em 1922 ou 1923, pelo velho Nkelani. As águas límpidas
mostravam grandes quantidades de bagres. Resolveu colocar na água uma muzua
para pescar. Deixou a armadilha e foi-se embora para casa. No dia seguinte
regressou ao local e ficou espantado com o que viu.
A muzua
estava na margem, sem qualquer peixe. O velho Nkelani pensou que alguém tinha
tirado a armadilha do local. Voltou a colocar a muzua na lagoa e regressou a
casa. Quando o velho Nkelani regressou à lagoa de Mufututu, no dia seguinte, encontrou a muzua abarrotada de peixe.
Mas ficou aterrorizado, porque eram bagres fumados e cozidos. Só havia uma
pequena quantidade de peixe fresco. “Isto é verdade, ninguém pode duvidar
porque aconteceu mesmo”, garante Mateus Domingos.
Sonhos
prodigiosos..
Nkelani
voltou para casa apreensivo. Pelo caminho encontrou três porcos, matou um e os
outros dois fugiram. Mas o velho não levou o porco morto, continuou a caminhar,
sem perceber que os dois porcos fugitivos o perseguiam até à entrada da aldeia
de Quimacuna. Dias depois, Nkelani
apanhou uma doença e morreu. Antes de morrer, Nkelani teve uma visão. Os bagres
pediram-lhe para dizer ao povo de Quimacuna
para que ninguém tomasse banho ou pescasse na lagoa do Mufututu.
“Sempre que
vai haver acontecer alguma coisa boa, o soba da aldeia sonha com os bagres, é
assim que eles nos transmitem uma mensagem para nós tomarmos precaução”, contou
Mateus Domingos.
Peixes de
férias……
Os peixes da
lagoa do Mufututu entram de férias
nos meses de Março e Abril e só voltam em Junho. “É por isso que estamos a ver
poucos peixes e todos pequenos. Aqui há centenas de bagres colossos que, nesta
altura, foram visitar a mãe, na lagoa Dimina, na comuna do Kinvuenga, onde passam as suas férias”, revelou Mateus Domingos.
Antigamente
a mãe dos bagres vivia no Mufututu,
mas por causa das obras nas estradas foi alterado o curso de alguns riachos e
lagoas. Por isso a rainha dos bagres fantasmas foi parar à Dimina.
“Nós
apercebemos que ela tinha mudado de lagoa, porque enviou um sonho ao velho
Miguel Nsanga, que também já foi soba desta aldeia. A mãe dos bagres pediu para
cuidarmos bem dos seus filhos”, contou Mateus Domingos.
Antigamente
existia uma grande cidade dentro da lagoa. Quem duvidasse da sua existência,
era obrigado a mergulhar para ver com os seus olhos, mas isso só era possível
fazer depois da realização de um ritual tradicional. “Depois da mãe dos bagres
mudar de residência, a cidade desapareceu e agora só se vê uma luz verde lá no
fundo, esta é mesmo uma lagoa maravilhosa”, concluiu Mateus Domingos.
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