sexta-feira, 6 de junho de 2008

INTERLÚDIOS




No teatro da guerra existiam também intervalos, e como tal tinham que ser aproveitados da melhor maneira.Naquele tempo existia o Clube Desportivo e Recreativo do Songo(CDRS), que além de uma excelente sala de cinema, tinha também um óptimo salão de festas, no qual se efectuavam de quando em vez, festas denominadas temáticas.Nessas ditas cujas, tinhamos que nos aperaltar , e então lá iamos ao nosso guarda-fato procurar a roupa "civil" para podermos apresentarmo-nos condignamente.
Era certo e sabido que redundavam normalmente em excessos imputáveis ao Deus Baco, a origem para estes excessos tinha como objectivo, esquecermo-nos de tudo o que deixáramos á distância de um oceano.


segunda-feira, 2 de junho de 2008

ENVOLVÊNCIAS




No enquadramento da nossa "guerra", tivemos algumas forças militares e de segurança a "trabalharem" em conjunto com a n/companhia.Uma delas, a Policía Rural, por vezes actuava no teatro das operações tendo como suporte logistico a n/companhia. Lutava com algumas dificuldades em termos de manutenção das suas viaturas, e devido a esse facto, por vezes o Comissário Martins solicitava o meu apoio. A finalidade era puder atestar o depósito de algumas viaturas e por vezes também uma "ajudinha" na componente mecânica.Ficam para a posteridade alguns documentos dessa envolvência.

terça-feira, 27 de maio de 2008

PIDE



Durante as guerras coloniais, a polícia política, até aí virtualmente ausente dos territórios africanos, assumiu nos três teatros de operações a função de serviço de informações e, constituindo, enquadrando e dirigindo milícias próprias, compostas por africanos, por vezes desertores das guerrilhas, colaborou com as forças militares no terreno. Neste âmbito, poderá a sua acção ter também ultrapassado as fronteiras; com efeito, são-lhe atribuídas responsabilidades, quer no atentado que vitimou o dirigente da FRELIMO Eduardo Mondlane, quer na manipulação dos descontentes do PAIGC que, num "golpe de Estado" dentro do partido, assassinaram o dirigente independentista Amílcar Cabral.Tivemos na nossa área de intervenção o acompanhamento de elementos da PIDE,objectivamente cooperavam com o exército fornecendo informações importantes para o bom desempenho das missões que nos estavam atribuídas.Vivi o desmembrar da polícia politica,já em Portugal após o 25 de Abril,participei na "tomada" ao Jornal República, no Bairro Alto, e da qual consegui recolher alguns exemplares para memória futura.

sábado, 24 de maio de 2008

Pé-de-Meia









Naquela altura não abundava o dinheiro,e o pouco que ficava nas nossas
mãos era "empatado" no bar do Zé Marques ou então em ocasiões muito especiais lá se comprava um objecto para mais tarde recordar. No meu caso pessoal comprei no Cantarinhas um relógio ultra-moderno, um Seiko cronómetro de balanço que me custou a linda quantia de 10.000$00!!!! Ainda hoje, passados todos estes anos está comigo e trabalha que nem um "brinco". Apesar destes "devaneios" ainda depositava alguns "trocos" nos CTT do Songo, como se pode comprovar pelas imagens em anexo
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quarta-feira, 21 de maio de 2008

"O Tavares Rico"

Sem qualquer espécie de dúvidas, era para nós um local aprazível para podermos confraternizar e ao mesmo tempo desfrutarmos de alguns petiscos de se lhes "tirar o chapéu". Fundamentalmente a lista/cardápio, estava recheada de iguarias, tais como:Ovos estrelados c/o belo do casqueiro,esparguete(muito) com carne e arroz(espapaçado)com frango, todas estas iguarias acompanhadas pelo belo do palhete(mistura de vinho c/água)mas de alta qualidade!! Neste refeitório juntávamo-nos aos "magotes"na esperança de arranjarmos um lugar para podermos desfrutar de tais manjares.








domingo, 18 de maio de 2008

O Café/Botequim do Zé Marques












Os momentos de lazer resumiam-se a algumas idas ao cinema e esporádicamente a algumas festas temáticas, realizadas no Clube Desportivo do Songo,no entanto e por vezes a bússola orientáva-nos para o café do Zé Marques.Formavam-se então alguns grupos de"Combate" que participavam em duelos entre as "Nocais e as Cucas".Alguns vencedores quando saíam já não tinham forças para erguer a Taça. Por lá divagámos, carpindo as nossas saudades, acompanhados pela bela da cerveja ou da Casal Garcia(fresquinha), e pelos petiscos de "arregalar o olho"confeccionados pela Dª Luisa.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

"O Pré versus Soldo"


É evidente que nós ansiavamos pela chegada do final do mês para receber a "choruda" quantia,inerente ao valor do nosso Pré/Soldo.
Lembro-me que na recruta efectuada na E.P.C. em Santarém, partimos alguns vidros da caserna numa mera brincadeira de arremeso de "botas da tropa" tipo granadas ofensivas.Quando chegou o final do mês e todos em formatura na parada, prontos para receber o tão ansiado "money", ficámos de mãos a abanar, e ainda com o ónus de devedores para com o Estado de(1$70),que nos iria ser descontado no mês seguinte, isto porque nos tinham subtraído as despesas da colocação dos vidros.
Em Angola já nos tornámos em "mercenários", e podiamos gastar o vencimento que auferiamos(uma parte) nas várias discotecas e pubs existentes no Songo.
Deixo aqui ficar como recordação o meu recibo de vencimento, idêntico ao de muitos outros emitidos na altura.

terça-feira, 13 de maio de 2008

O INTERREGNO










Uma pausa para descomprimir da "guerra chata", era o que nos acontecia mais ou menos a "meio" da comissão, uns ficavam por Carmona outros viajavam até ao "puto".Eu fui um dos felizardos em "arrancar a sete pés" do Songo, e viajar até Lisboa, e sonhar que a guerra tinha acabado.Naquela altura viajar de avião era ainda um luxo, e por vezes uma verdadeira aventura. Ficam aqui expostos alguns dos documentos que me deram o livre trânsito para poder carregar baterias durante um mês.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

"O CORREIO"






O elo mais forte da corrente que nos unia aos nossos familiares eram as notícias que nos chegavam através do correio. A ansiedade predominava até á chegada do Aurélio Sousa,logo que começava a distribuição dos aerogramas, cartas e revistas a imagem visual era gratificante, naqueles rostos o espelho de várias emoções,a alegria,a saudade e por vezes lágrimas que escorriam envergonhadamente pelas faces. Do "Puto" tinham sido transportadas toda uma panóplia de sentimentos.O correio era recepcionado pelo Aurélio em Carmona no BC12 e transportado até ao Songo, via terrestre no velhinho Jeep Willys conduzido muitas vezes pelo Gouveia, percorrendo em "altas" velocidades a distância que separava os dois locais, na ânsia de entregar as noticias o mais rápido possivel.

terça-feira, 6 de maio de 2008

MEMORIAL

Em memória daqueles que já partiram, o sentimento profundo da nossa saudade. Para os perpétuar no tempo, aqui ficam registados os seus nomes:


Capitão Infantaria ------------------ Humberto Pinto Morais--------------- Portugal
1º Sarg. Infantaria ------------------ José Lopes Azevedo ----------------- -Portugal
Furriel Miliciano ------------------- Arménio Esteves Basso --------------- Angola
Furriel Miliciano ------------------- Fernando Ferreira Cunha ------------- Portugal
Sold.Condutor Auto ------------------- João Ribeiro Moreira --------------- França
Sold. Atirador ------------------- João Andrade Junior --------------- ----Angola
Sold. Atirador ----- -- - - - --------Armando Silva de Jesus------------------Angola

terça-feira, 29 de abril de 2008

"As Picadas"

Tivemos durante a n/permanência no Songo, um furriel enfermeiro "cinco estrelas".
Eu fui um dos que infelizmente fui apanhado na curva pelo mosquito portador do paludismo, o que me obrigou a entrar em "estágio" durante uma semana. É evidente que após este repouso forçado ao tentar levantar-me para sair da cama, caí redondamente no chão, devido ao meu estado geral que era"muito fraco". Aí tive a atenção do n/"médico" de serviço o Orlando Castro, que me alimentou através de umas injecções vitaminicas , que me tornaram em pouco tempo num verdadeiro Hércules.
Uma intervenção mais generalizada,em termos de vacinação foi efectuada aquando da n/chegada ao Grafanil, o pessoal da Companhia foi obrigado a deitar-se no chão,com o dito cujo voltado para o Céu, enquanto o Castro mais um seu ajudante de campo,"picava" em tudo o que estava a descoberto. Ainda hoje não sei bem, qual a finalidade das mesmas.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril(34 Anos)




Muitas coisas já se contaram sobre o 25 de Abril e muitas ficarão, para sempre, por contar.
Pequenos nadas. Por pouco importante que tenham sido, foram elos de uma corrente.
Há lugares e gentes que, no anonimato, foram um elo de Abril. Poucos os conhecem, ficaram na penumbra da história da Revolução.
Arrancando um desses pequenos elos à penumbra, aqui ficam retratos daqueles que contribuiram para o não esqueçer.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

"DIPLOMA"


De forma a privilegiar todos os camaradas que estiveram nos almoços convivios,entregámos este título que faz subsistir nas nossas memórias a entrega e partilha dos momentos já vividos.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

"Foram os Turras"


Uma bela noite tivemos a ideia genial de fazermos uma patuscada, mas faltava o principal. o "material". Logo uma ideia germinou no cérebro de alguns "ferrugentos", casos do Óscar,Velez,Gouveia e de mim próprio.
-E se fôssemos fazer uma emboscada ao redil do açougueiro?
E se assim pensámos, logo o pusemos em execução. Sentei-me no velhinho Jeep Willys e mandei avançar a tropa de élite, a meu lado sentou-se o Gouveia e no banco traseiro o Óscar e o Velez, e lá arrancámos já noite cerrada em direcção á sanzala, com as luzes do jeep apagadas. Em pouco tempo estávamos no local da acção, o Velez saltou com agilidade do Jeep, tendo na sua mão direita bem apertada, a faca de mato pronta a desferir os golpes necessários para abater o "inimigo". Logo que se embrenhou no redil, apertou contra o peito um belo cabrito, e encomendou-lhe a alma ao diabo. Rápidamente voltámos ao quartel e entregámos a encomenda ao n/cozinheiro Cunha, que logo o colocou num tabuleiro para o "cremar" no forno. A festa durou toda a noite, acompanhada pela saborosa Cuca e Nocal, as loirinhas de Angola.
No dia seguinte já circulava na vila o boato de que os "turras" tinham assaltado o redil, tendo levado consigo algumas cabras, é evidente que nem em sonhos o "pobre" do talhante pensaria que tinhamos sido nós.

terça-feira, 15 de abril de 2008

"A PARTIDA"





A imagem fica perpetuada para sempre no nosso imaginário, na altura jovens mancebos inconscientes. Éramos milhares naquela Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos, rumando para um destino incerto e tentando decifrar palavras como,Angola e Guerra.
O navio Vera Cruz, imponente nas suas dimensões, assemelhava-se a um gigante dos mares, que nos iria engolir nas suas entranhas.
Uma vastidão de lenços brancos agitavam-se enérgicamente na despedida, as lágrimas corriam desmuradamente nas faces de todos os intervenientes, na sua maioria mães que suplicavam para que aquele"monstro"não lhes levasse os filhos.
As condições de alojamento não eram efectivamente as melhores, os oficiais e sargentos tinham camarotes á sua disposição, e os soldados tinham que ficar confinados ao porão, conjuntamente com os víveres.
Partimos da Rocha Conde de Óbidos no dia 31 de Julho de 1971, e passados nove dias estávamos a fundear na baía de Luanda, tendo como visão, uma imagem deslumbrante da beleza daquele pôr do Sol africano.

OUTRORA

01 de Março de 2008 A construção do blogue da Onzima, teve como intenção dar a conhecer a nossa vivência por terras de Angola. Dei a conh...