Acabariam guardados em baús, gavetas ou malas, retendo sufocados, para a eternidade, memórias da verdadeira, da autêntica história vivida por toda uma população que sofreu na alma e na carne as dores intermináveis da guerra. Muitos deles escondiam por detrás das metáforas ou frases subentendidas coisas que se receava viessem a ser alvo da censura pidesca.
quarta-feira, 10 de outubro de 2018
OS BATE ESTRADAS (AEROGRAMAS)
Foi, incontestavelmente, durante o longo período de duração da Guerra Colonial, o meio de comunicação que mais encheu as Estações de Correios, os porões dos aviões, os altos e espelhados edifícios do SPM (Serviço Postal Militar), as malas de cabedal e os braços dos carteiros, espalhando-se por cidades e pelas aldeias mais recônditas. O Aerograma foi escrito e lido à mesa do rico e do pobre. Passou por cadeias e hospitais. Aos civis era distribuído na cor azul e aos militares na cor amarela. O seu custo avulso era de $30 (três tostões). Correu mundo este papel fino e desdobrável portador de notícias, sentimentos, alegrias e tristezas. Para além das letras, muitas vezes esborratadas pelos salpicos inevitáveis das lágrimas descuidadas, neles eram inscritos e desenhados lindos poemas e figuras, as quais expressavam os mais diferentes estados de alma.
Acabariam guardados em baús, gavetas ou malas, retendo sufocados, para a eternidade, memórias da verdadeira, da autêntica história vivida por toda uma população que sofreu na alma e na carne as dores intermináveis da guerra. Muitos deles escondiam por detrás das metáforas ou frases subentendidas coisas que se receava viessem a ser alvo da censura pidesca.
Acabariam guardados em baús, gavetas ou malas, retendo sufocados, para a eternidade, memórias da verdadeira, da autêntica história vivida por toda uma população que sofreu na alma e na carne as dores intermináveis da guerra. Muitos deles escondiam por detrás das metáforas ou frases subentendidas coisas que se receava viessem a ser alvo da censura pidesca.
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
quinta-feira, 26 de julho de 2018
GANHAR DINHEIRO...UMA VIDA
Fomos para a guerra sem pensar em dinheiro, queríamos era acordar no dia seguinte a mexer e com saúde, no entanto no final de cada mês sabia sempre bem receber uns tostões. Existia uma disparidade de valores entre os praças, sargentos e oficiais, no entanto nunca foi motivo para discórdias, falava-se mas objectivamente o importante era estarmos e manter-nos vivos.
Como termo de comparação aqui deixo um recibo do meu vencimento em Angola e um posterior já na vida civil como o meu primeiro emprego.......
segunda-feira, 23 de julho de 2018
A "NOSSA" CASA.....
O município do Songo dista a 40 quilómetros a Norte da cidade do Uíge, tem dois mil 800 quilómetros distribuídos em uma comuna (Kinvuenga), 13 regedorias, 81 aldeias, 14 bairros e conta com uma população de 62 mil 362 habitantes, segundo os dados do Censo Geral da População e Habitação realizado em 2014.
Neste local, hoje completamente degradado vivemos 27 meses da nossa vida. Um longínquo percurso cheio de imponderáveis, visto que vivíamos um dia de cada vez, o amanhã era incerto!
Neste local, hoje completamente degradado vivemos 27 meses da nossa vida. Um longínquo percurso cheio de imponderáveis, visto que vivíamos um dia de cada vez, o amanhã era incerto!
sábado, 21 de julho de 2018
LAÇOS de SANGUE
Os tempos mudam, e as gerações também, só os sentimentos e as emoções perduram. Um retrato de uma época que deixou mazelas profundas em jovens que sonhavam com um mundo diferente, para melhor.....
segunda-feira, 7 de maio de 2018
METAMORFOSES
Metamorfose é a mudança considerável que ocorre no caráter, no estado ou na aparência de uma pessoa.
Aconteceu com todos os que estiveram na Guerra e de lá regressaram com vida.
Hoje ao fazermos um retrocesso no tempo, ficamos surpreendidos com a transformação efectuada através dos tempos. Acabamos todos da mesma maneira no entanto não é fácil encararmos a nossa capitulação. Abraço forte a todos aqueles que ainda "resistem".....
Ilídio Fernandes Aguiar
1º Cabo Atirador
01641271
Aconteceu com todos os que estiveram na Guerra e de lá regressaram com vida.
Hoje ao fazermos um retrocesso no tempo, ficamos surpreendidos com a transformação efectuada através dos tempos. Acabamos todos da mesma maneira no entanto não é fácil encararmos a nossa capitulação. Abraço forte a todos aqueles que ainda "resistem".....
sábado, 5 de maio de 2018
MÃES DE UMA GUERRA
Hoje velhos e cansados, só temos recordações e saudade de todos aqueles que perdemos ao nosso redor clamando por um último pedido...Mãe entrego-me em teu regaço!
Este país desmembrado que desprezou toda uma juventude, que verteu o seu sangue em terras de África, não mereceu o nosso esforço!
quinta-feira, 26 de abril de 2018
"FLECHAS"
MPLA chacinou um quarto dos "Flechas" após fim da guerra colonial em Angola revela historiador
Cerca de 25% dos mais de 2.000 "flechas" angolanos, que lutaram ao lado de Portugal, foram "chacinados" pelo MPLA nos primeiros sete meses após o fim da guerra colonial portuguesa em Angola, indicou hoje um historiador norte-americano.
John P. Cann, entrevistado pela agência Lusa a propósito do seu mais recente livro "Os Flechas -- Os Caçadores Guerreiros do Leste de Angola -- 1965/74", publicado pela editora Tribuna da História, indicou que só numa operação, realizada em Mavinga, na província de Cuando-Cubango (sudeste), as forças do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) abateram 130 bosquímanos.
Cerca de 25% dos mais de 2.000 "flechas" angolanos, que lutaram ao lado de Portugal, foram "chacinados" pelo MPLA nos primeiros sete meses após o fim da guerra colonial portuguesa em Angola, indicou hoje um historiador norte-americano.
John P. Cann, entrevistado pela agência Lusa a propósito do seu mais recente livro "Os Flechas -- Os Caçadores Guerreiros do Leste de Angola -- 1965/74", publicado pela editora Tribuna da História, indicou que só numa operação, realizada em Mavinga, na província de Cuando-Cubango (sudeste), as forças do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) abateram 130 bosquímanos.
quarta-feira, 25 de abril de 2018
25 ABRIL 2018
Sabias que antes de 25 de Abril de 1974 Portugal vivia num regime de ditadura em que a liberdade estava vedada aos portugueses? Foi na madrugada desse dia que o movimento dos capitães, encabeçado por Salgueiro Maia, saiu à rua e colocou um ponto final no regime. A senha de código para mostrar que o movimento estava em curso foi dada no Rádio Clube Português através de uma música que que havia vencido o Festival da Canção, logo não levantava suspeitas.
Quase não houve tiros ou confrontos, algo raro num golpe militar, o que fez com que a revolução portuguesa ficasse conhecida como a revolução dos cravos, pois estas perfumadas flores vermelhas foram colocadas no cano das espingardas e distribuídas pelo povo que enchia as ruas numa explosão de alegria. Marcelo Caetano foi preso e daí partiu para o Brasil, a PIDE – a polícia política com a função de vigiar e torturar– foi extinta e a festa continuou na rua até ao 1º de Maio, celebrado pela primeira vez em liberdade.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
A FERRUGEM
Espirito de equipe é superar todas as dificuldades em conjunto, e construir uma base de resistência em prol do grupo.
Tive o previlégio de entrelaçar emoções com todos os que me acompanharam durante 27 meses no Songo, deram o melhor que podiam e sabiam.
Quando chegámos ao Songo só um Jeep Willys funcionava, os Umimogs 411 e uma Mercedes a cair de podre e um Unimog 404, tudo encostado ás boxes. Durante uma semana o Velez(soldado mecânico) um mestre na matéria, e os menos habilitados, lá conseguimos colocar algumas viaturas operacionais.
Devo realçar com toda a justiça os condutores, que faziam das tripas coração para levar a bom porto os seus camaradas por picadas quase impenetráveis, onde o Sol teimava em não assomar. As percentagens de inclinação eram assustadoras, nas subidas por vezes uma 1ª velocidade e nas descidas era encomendar a alma a Deus, visto os travões por vezes não actuarem devido aos 12 homens que transportavam acrescido de todo o armamento que seguia no mesmo...acreditem os milagres existem!
Um obrigado a todos os CARS (Condutores Auto Rodas) e aos MARS (Mecânicos Auto Rodas).
18581270-Albano C. Laranjeira
01227070-Inácio P. Oliveira
05182670-João P. Gouveia
07250170-Óscar T. Ribeiro
03981770-José A. Velez
05782570-José M. Beja
15720170-Fernando F. Neves
15728070-António D. Mesquita
15747070-José A. Lamarão
15856570-José M. Vaz Gonçalves
15862070- Luís J. Moreira Oliveira
15869170- José Hermínio Correia
15895070- Luís A. Santos Anselmo
15856270- João R. Moreira(Apúlia)
15781370-José M. Valente Calisto
15758870- Joaquim S. Romão
15953670-Celino F. Pereira
15763470- Assis F. Nel
Tive o previlégio de entrelaçar emoções com todos os que me acompanharam durante 27 meses no Songo, deram o melhor que podiam e sabiam.
Quando chegámos ao Songo só um Jeep Willys funcionava, os Umimogs 411 e uma Mercedes a cair de podre e um Unimog 404, tudo encostado ás boxes. Durante uma semana o Velez(soldado mecânico) um mestre na matéria, e os menos habilitados, lá conseguimos colocar algumas viaturas operacionais.
Devo realçar com toda a justiça os condutores, que faziam das tripas coração para levar a bom porto os seus camaradas por picadas quase impenetráveis, onde o Sol teimava em não assomar. As percentagens de inclinação eram assustadoras, nas subidas por vezes uma 1ª velocidade e nas descidas era encomendar a alma a Deus, visto os travões por vezes não actuarem devido aos 12 homens que transportavam acrescido de todo o armamento que seguia no mesmo...acreditem os milagres existem!
Um obrigado a todos os CARS (Condutores Auto Rodas) e aos MARS (Mecânicos Auto Rodas).
18581270-Albano C. Laranjeira
01227070-Inácio P. Oliveira
05182670-João P. Gouveia
07250170-Óscar T. Ribeiro
03981770-José A. Velez
05782570-José M. Beja
15720170-Fernando F. Neves
15728070-António D. Mesquita
15747070-José A. Lamarão
15856570-José M. Vaz Gonçalves
15862070- Luís J. Moreira Oliveira
15869170- José Hermínio Correia
15895070- Luís A. Santos Anselmo
15856270- João R. Moreira(Apúlia)
15781370-José M. Valente Calisto
15758870- Joaquim S. Romão
15953670-Celino F. Pereira
15763470- Assis F. Nel
ASES DA PICADA
Sempre longe dos asfaltos
Com viaturas "fanadas",
Os bravos condutores-auto.
Eram ases nas picadas
Bastante mal preparados
Para a difícil missão
Esforçados, dedicados,
Lá cumpriam a comissão
As viaturas mais novas
Eram p'ra grandes certames
As outras, para mato e covas,
Sempre presas por arames
Pneus carecas na lama,
Qual cabeça de sargento
Que ralha, mas que não trama,
Sendo apenas rabugento
Travões sem ferodo nos calços,
Caixa com folgas à farta
Aprendemos com percalços
Passar da segunda para a quarta
Honra aos camaradas tombados
Por esta, ou aquela razão;
Uns por "turras" baleados
Outros de volante na mão.
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
ABANDONADOS....
Durante os primeiros seis anos da guerra colonial, o Estado só pagava o regresso de militares vivos. Permanecem até hoje enterrados em África cerca de 1500 corpos. Muitas famílias já os esqueceram, algumas ainda não. A arqueóloga Conceição Vitoriano Maia foi à Guiné desenterrar o irmão. Otília Gonçalves só quer trazer “o mano” de Angola.
“Pedia a V.ª Ex.ª, pela sua saúde, já que não tive a sorte de trazerem o meu filho vivo, peço-lhe que mo mandem mesmo morto. Para eu o adorar e rezar ao pé daquele bom querido filho. Peço imensa desculpa a V.ª Ex.ª destas minhas tristes palavras, mas a dor é tão grande que não sei onde hei-de respirar. O nome do meu filho é Francisco da Luz Carloto.”
Sem querer, a carta de uma camponesa alentejana que não sabia escrever ajudou a mudar um pormenor da história.
Maria Florinda da Luz tinha sido informada por telegrama que o filho tinha morrido na guerra em Moçambique a 19 de Janeiro de 1967. Se o quisesse trazer, teria de pagar 12 mil escudos, o que equivaleria, aos preços de hoje (de acordo com o conversor da Pordata), a cerca de 4 mil euros. Era impossível, mas a mãe do soldado sentiu que, à sua maneira, tinha de fazer alguma coisa.
“A minha sogra era uma mulher sem estudos, mas bem resolvida”, lembra ao P2 a nora, Brígida Leitão. Partiu dela a ideia de ir ter com quem sabia, “o senhor presidente da junta”: “Ela a chorar disse-lhe tudo o que sentia, o que tinha no coração” e ele lá organizou e arrumou as frases à sua maneira, que assim seguiram, em tom submisso, para o ministro da Defesa, uma ousadia nos tempos que corriam.
Desde que a guerra tinha começado, em Angola em 1961, que o Estado português só pagava a ida e o regresso aos militares vivos, não o dos mortos. Quem queria trazer os seus tinha de pagar e quanto mais longe morria o militar mais caro: trazer um corpo de Moçambique era o mais caro; da Guiné, por ser mais próximo, ficava um pouco mais barato, 7500 escudos (cerca de 2500 euros), lembra o livro de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, Os Anos da Guerra Colonial 1961.1975 (QuidNovi), que cita a carta da mãe e explica as suas repercussões.
“A transladação era incomportável para a maioria das famílias, era uma sociedade ruralizada, com hierarquias, com uma desigualdade mais nítida e aceite do que é hoje”, explica Carlos Matos Gomes. O que, na prática, acontecia é que eram as famílias dos oficiais quem mais meios tinha para pagar pelo regresso dos seus mortos. “A transladação era para uma elite social”, constata o autor e coronel na reserva.
Ernestina da Silva — que só este mês, 54 anos depois da morte do pai em Angola, em 1963, conseguiu transladá-lo para Portugal — não sabe se, na altura, foi sequer dada a possibilidade à mãe de pagar os 10 mil escudos que eram exigidos à família, o que equivaleria a cerca de 4000 euros aos preços de hoje. Teria sido indiferente. Era impossível angariar essa quantia. A mãe vivia da agricultura, plantava batatas, tomates, faziam azeite e vinho. Teve aliás de emigrar para a Alemanha, deixando a filha com oito anos a ser criada pelos avós. Os pais do soldado morto também pouco podiam fazer, eram agricultores, nove filhos. Nunca houve campa.
Ainda devolveram à família a aliança e o mostrador do relógio Sigma que o soldado António Lopes da Silva usava quando foi morto, “que veio cheio de sangue”, e que Ernestina conserva até hoje dentro de uma caixinha de veludo.
A grande maioria dos mais de cerca 1500 militares portugueses (de acordo com o levantamento mais recente feito pela Liga dos Combatentes) que permanecem até hoje
“Eu revi-me na pele da Tina. Tenho muito orgulho de ela ter conseguido.” Otília Gonçalves, 54 anos, conheceu pela Internet a filha que trouxe o pai de Angola, foi de propósito de Braga a Lobão da Beira para o funeral. Anda há cerca de dez anos a tentar trazer “o mano” de Angola. O irmão, o mais velho de 11 filhos, morreu no início da guerra, a 15 de Outubro de 1961, junto a uma fazenda chamada “Tentativa”. Embora nunca o tenha conhecido sem ser de foto, a presença da sua ausência marcou-lhe a infância na aldeia de Ponte de São Vicente, distrito de Braga. “Eu, pequenina, ia dar com a minha mãe a chorar sentada no chão, atrás do milho. ‘Sai daqui’”, ordenava à filha. Não queria que a sua dor fosse vista. Foi assim durante anos. No Verão, na altura de arejarem as roupas, do fundo de uma arca de madeira saía também o livro da primária “do mano”. É a única dos irmãos que não desiste. “Os meus irmãos acham que já não há nada para trazer.” Para Otília, há algo inacabado. Só receberam um telegrama a dizer que tinha morrido de acidente, perto de Nambuangongo, “muito simples e frio, ponto final. Se quisessem o filho, tinham de pagar. Era impossível. Tinham de vender a casa e as terras, claro que não dava”. Chamava-se Aquilino da Silva Gonçalves, era segundo cabo do Exército, ia fazer 21 anos.
Escreveu cartas e emails ao Presidente da República, ao primeiro-ministro, “a todos os órgãos”. “‘Acusamos a recepção, com os melhores cumprimentos.’ Mais nada. Tenho tudo arquivado.” “Quero trazer o meu irmão, quero que os meus pais descansem.” “Há muita gente que já não tem família mas há muita gente que ainda os quer trazer. Eu preciso.”
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